O septeto Cornucopia, proveniente de Hamburgo, é mais um caso exemplar dos anos de ouro do underground teutónico. Após a edição do seu único álbum, Full Horn, em 1973, a banda desvaneceu-se em parte incerta e foi apenas retirada da teia de aranha das memórias em 2002, ano da reedição da pérola solitária que legaram.
Full Horn não surpreenderá os connaisseurs do krautrock. Mas atraí-los-à. Levitando entre o caótico, o esquisito e a fusão, desmembra-se em quatro capítulos que incorporam rock psicadélico, influxos jazzísticos e grooves à moda de Zappa. Entretém o cérebro e foge do aborrecimento como o Diabo da cruz.
Day of a Day-Dream Believer abre o disco de forma imponente. Um delírio esquartejado em nove partes, deambulando entre o maníaco, o excessivo e as retiradas introspectivas. Um must para os amantes de bizarrias sónicas. Contrastando radicalmente com este enorme zeppelin inflamado, segue-se Morning Sun. Curto e directo, evoca a ideia de alemães a passar férias nas praias da Califórnia e cheira a single que nunca saiu das sombras. Spot on You, Kids lança-nos novamente em órbita, num azimute perfeito entre o krautrock de denominação de origem controlada e os floreados imprevisíveis de uns Mothers of Invention. É um doce cataclismo que se abate sobre nós, fustigando-nos com uma mão e acariciando-nos com a outra. And the Madness... irrompe e fecha o disco da forma mais alucinante possível. Um exercício surreal de corte e colagem que, a meio caminho, se transforma num cortejo elegíaco.
Full Horn é mais um disco voador do seu tempo. Um tempo sem restrições criativas e barreiras conceptuais. Tempo da Alemanha que se emancipava como entidade capaz de passar o rock pela picadora e transformá-lo numa linguagem única na sua visão mas num esperanto musical acessível aos aliados do seu progresso.