13 de março de 2012

Som Só


A presença flutuante de Nick Drake assemelha-se a uma vela sozinha no escuro, cuja chama tremeluzente nunca se extingue. A morte visitou-o prematuramente, aos 26 anos, ceifando uma existência frágil e hermética, mas cujo testamento artístico foi monumental.
Em três dos discos mais belos, melancólicos e solitários que a Humanidade já conheceu, Nick Drake tornou-se o trovador do isolamento, cortando laços com o mundo exterior para conviver com o silêncio dos bosques e o murmúrio do vento, deambulando em autismo musical pelos trilhos de um Outono perpétuo. Five Leaves Left, Bryter Layter e Pink Moon são o arquétipo da folk mágica e romântica, uma música que arrebata pela beleza triste e pela simplicidade elegante. Ao longo destas três obras, assistimos ao desabrochamento, ao florescimento e à murchidão de um artista de enorme talento mas parcas capacidades de lidar com ele e fazê-lo singrar. Avesso a entrevistas, concertos e demais aparições em público, o reclusivo Drake quis apenas ficar a observar o mundo da janela, mas as suas sensíveis criações tornaram-se parte do mundo de muita gente.
Em A Skin Too Few: The Days of Nick Drake, o holandês Jeroen Berkvens conseguiu um fiel retrato do mítico músico britânico. Este documentário de 2002 traça o seu percurso pessoal e artístico, sustentando-se em depoimentos de familiares, amigos e companheiros de armas musicais. Até hoje, continua a ser imbatível e um precioso artefacto para juntar aos demais que lhe são dedicados. Escusado será dizer que o culto é imortal...