6 de abril de 2012

Poker de Dados


É sempre bom assistir ao regresso controlado da electrónica analógica. Na sua artificialidade, é a que soa mais real. Cativa por ser esquiva e pela hipnose latente. É certo e sabido que a Alemanha criou uma escola neste estilo, encabeçada por nomes lendários como Kraftwerk, Tangerine Dream, Klaus Schulze ou Cluster. A palavra espalhou-se ao longo das últimas décadas e o pulsar cósmico e flutuante desta música tornou-se revolucionário, foi considerado ultrapassado e, nos últimos anos, tem sido novamente objecto de expedições e discreta ribalta.
Da Suécia chegam os Roll the Dice. Composto por Peder Mannerfelt e Malcolm Pardon, respectivamente um sueco e um inglês fixado em Estocolmo, o duo começou por editar um discreto mas sólido álbum de estreia em 2010. Roll the Dice, o disco, movia-se pela tundra da electrónica minimal e semi-improvisada, num filme sónico espacial. 2011 delapidou o som e a edição de In Dust trouxe a consolidação de um projecto a seguir com atenção. O sentido produtor de Peder Mannerfelt (que participou no excelente álbum de estreia de Fever Ray) encontra-se aqui mais apurado e o disco perde um pouco da amálgama sideral do seu antecessor. Parece dividir-se entre vertigens urbanas e a ambiência electro-pastoral dos Cluster. Tanto um como o outro são objectos imperdíveis para os que gostam de surfar pelas vagas da electrónica analógica que se levantaram em terras germânicas. Consta que, ao vivo, são igualmente pungentes e o impacto visual é forte. Só o Benfica me poderia impedir de os ver anteontem no Maria Matos... Ficam o toque à distância e os dois álbuns completos para desbravar aqui.