29 de fevereiro de 2012

Kosmische Kosmetik XXXIV

Os Ejwuusl Wessahqqan (tentar dizer três vezes seguidas sem se enganar) são mais uma pérola da Alemanha obscura. Oriundos da bávara Munique, editaram um único disco durante a sua quase desconhecida existência. Álbum de culto na verdadeira acepção da palavra, Ejwuusl Wessahqqan (1975) constrói o seu ninho no ramo mais estouvado e anárquico do krautrock. O caos é quem mais ordena dentro deste registo, um caos orientado, torrente de música sem limites de espaço e tempo, mas que nos enlaça. Alienantes e fascinantes na mesma dose, as longas jams do álbum podem ser incluídas na linhagem dos Amon Düül II, Gila ou Guru Guru.
Die Geborstenen Kuppeln Von Yethlyreom é o primeiro raid. Irrompe em combustão espontânea e deflagra vertiginosamente, com guitarras em ebulição e teclados entre o transe e o vaudeville demoníaco dos Doors. A hipnose varia mas prossegue os seus intentos na segunda peça, Die Orangefarbene Wüste Südwestlich Von Ignarh. Igualmente longa, mas comparativamente mais lenta, vagueia como procissão psicadélica em terras remotas. Há que destacar a presença preponderante do filouphone, instrumento artesanal de sete cordas, criado e tocado por Renè Filous, e que soa a uma guitarra com expressões orientais.
Ninguém se pode queixar de falta de variedade em Ejwuusl Wessahqqan. Ao terceiro tema, Thuloneas Körper, surge nova inflexão estilística, desta feita para uma curta e melódica composição, bela mas desfasada do que veio e do que está para vir. Hobbl-Di-Wobbl retorna às digressões psicadelicamente assistidas, alastrando-se em alucinação por mais de um quarto de hora. Satisfação garantida para apreciadores...
Em 1996, a editora especialista em recuperar estes achados arqueológicos - Garden of Delights - editou o disco acrescentando-lhe quatro faixas bónus. Nenhuma delas se enquadra verdadeiramente no espírito do alinhamento original, mas exigem audição. Passaceety e AFN são mais rock progressivo que krautrock, duas peças de estremecimento sinfónico que remetem para uns Egg ou uns Emerson, Lake & Palmer menos aburguesados e mais intrépidos. The Crystal e La Mer são temas de outro grupo surgido posteriormente, os Koala-Bär. Estes não são mais que os Ejwuusl Wessahqqan revistos e diminuídos para três membros dos cinco originais. The Crystal é o único tema vocalizado, uma canção psicadélica clássica e espacial, muito ao estilo dos conterrâneos germânicos Eloy; La Mer emana ecos etéreos, uma ária cósmica e escapista.
O nome Ejwuusl Wessahqqan foi retirado de uma obra de ficção científica. Eles próprios foram uma, demasiado reais para serem duvidados, demasiado fantasistas para se confinarem às fronteiras do possível.