Um dos filmes-concerto mais míticos de sempre, Stop Making Sense retrata os Talking Heads no auge dos seus poderes em 1983. Jonathan Demme foi um mestre na sua realização. A banda é o centro de tudo, a audiência pressente-se mas nunca se vê e o concerto é visto com algo conceptual, um crescendo gradual e imprevisível de momentos, em detrimento de uma simples sucessão de canções. Tudo começa com um esqueleto descarnado e termina em opulência visual e rítmica. A presença enorme e surreal, mas ao mesmo tempo carismática de David Byrne ofusca o barulho das luzes e garante imortalidade absoluta a This Must Be the Place (Naïve Melody), Girlfriend is Better e Once in a Lifetime. Faz todo o sentido.
19 de maio de 2012
18 de maio de 2012
Kosmische Kosmetik XXXIX
Krautrock em ponto de fusão. Assim foi a experiência oriental de Alexander Wiska. O primeiro disco saído da mente deste alemão vidrado na música turca foi editado em 1972. Foi baptizado Alex e resultou da joint venture Alex Oriental Experience.
O disco é uma mescla de influências étnicas com a pouca ortodoxia do rock alemão de setentas. Coisa rara mas coisa boa. Basta dizer que os pesos-pesados Holger Czukay e Jaki Liebezeit dos Can estão presentes e dão uma ajuda escandalosamente preciosa. Pejada de instrumentos tradicionais da Turquia, a música de Alex vive de exotismo e transcendência, com os costumeiros rasgos psicadélicos a enfeitar o conjunto. A típica guitarra de três cordas, o baglami, é tratada com estonteante preceito. A secção rítmica dos Can está em topo de forma: Czukay providencia as suas linhas de baixo ondulantes e hipnóticas, para além de subliminares efeitos electrónicos e Liebezeit parece um robot com o diabo no corpo, não se sabendo onde ele acaba e a bateria começa. É sempre um assombro ouvir este génio tocar, particularmente em temas como Patella Black, Derule ou o tremendo Ekmek.
Há uma pequena delícia chamada Turkish Tunes, que nos passeia desde o Bósforo até ao alto dos minaretes, e uma insólita mas apetitosa salada de música étnica e blues chamada Anatoly Highway. Big Boss Smile e Monroe's Song colocam Alex e o seu virtuosismo no spotlight (vide capa do album) e Silent Farewell destoa tanto do resto do disco como um padre católico em Istambul. Estranhamente, soa aos Can com o vocalista Malcolm Mooney em modo lounge. A morder os calcanhares ao supracitado Ekmek fica outro grande tema, Tales of Purple Sally. A voz de gravilha que arranha todo o álbum soa mais encortiçada que nunca e a música é quente e encantatória.
Disco após disco, a vulgaridade começou a tomar conta de Alexander Wiska. Alex será sempre o seu filho pródigo, quer pela qualidade musical, quer pelos venerandos colaboradores que o assistiram, quer pela inovação no cruzamento entre géneros, à partida, tão distantes. E era isto que convinha relembrar à Alemanha cerrada de hoje em dia: mais que credores, eles também são devedores.
O disco é uma mescla de influências étnicas com a pouca ortodoxia do rock alemão de setentas. Coisa rara mas coisa boa. Basta dizer que os pesos-pesados Holger Czukay e Jaki Liebezeit dos Can estão presentes e dão uma ajuda escandalosamente preciosa. Pejada de instrumentos tradicionais da Turquia, a música de Alex vive de exotismo e transcendência, com os costumeiros rasgos psicadélicos a enfeitar o conjunto. A típica guitarra de três cordas, o baglami, é tratada com estonteante preceito. A secção rítmica dos Can está em topo de forma: Czukay providencia as suas linhas de baixo ondulantes e hipnóticas, para além de subliminares efeitos electrónicos e Liebezeit parece um robot com o diabo no corpo, não se sabendo onde ele acaba e a bateria começa. É sempre um assombro ouvir este génio tocar, particularmente em temas como Patella Black, Derule ou o tremendo Ekmek.
Há uma pequena delícia chamada Turkish Tunes, que nos passeia desde o Bósforo até ao alto dos minaretes, e uma insólita mas apetitosa salada de música étnica e blues chamada Anatoly Highway. Big Boss Smile e Monroe's Song colocam Alex e o seu virtuosismo no spotlight (vide capa do album) e Silent Farewell destoa tanto do resto do disco como um padre católico em Istambul. Estranhamente, soa aos Can com o vocalista Malcolm Mooney em modo lounge. A morder os calcanhares ao supracitado Ekmek fica outro grande tema, Tales of Purple Sally. A voz de gravilha que arranha todo o álbum soa mais encortiçada que nunca e a música é quente e encantatória.
Disco após disco, a vulgaridade começou a tomar conta de Alexander Wiska. Alex será sempre o seu filho pródigo, quer pela qualidade musical, quer pelos venerandos colaboradores que o assistiram, quer pela inovação no cruzamento entre géneros, à partida, tão distantes. E era isto que convinha relembrar à Alemanha cerrada de hoje em dia: mais que credores, eles também são devedores.
15 de maio de 2012
Kosmische Kosmetik XXXVIII
É, muito possivelmente, o primeiro artefacto gravado do movimento que originou o krautrock e a electrónica progressiva alemã. Mas não é bonito e não é para todos. Live at the Zodiak - Berlin 1968 é um raríssimo registo ao vivo de um grupo que nunca existiu. Um colectivo denominado Human Being, que contava, nas suas fileiras, com Hans-Joachim Roedelius, futuro fundador dos míticos Kluster / Cluster. O restante núcleo duro era formado por não-músicos, renegados vestidos de negro que pareciam vir martirizar a cultura hippie no culminar do seu florescimento. O evento antecedeu a estreia dos Can e dos Tangerine Dream e a sua (re)descoberta é de incalculável valor para os krautodependentes.
A música que se ouve neste registo recuperado 40 anos após a sua confrontação é uma amálgama de sons rarefeitos e sombrios. Não existem traços de melodia, nem sequer um ritmo que embale esta inóspita travessia, sobre pavimento acidentado, debaixo de um carregado céu cinzento. São 56 minutos de arame farpado sonoro e ruído lamacento, de contornos industriais. Um espermatozóide de música concreta a fecundar um óvulo de electrónica abstracta. Algo parecido com as (poucas) futuras obras dos Kluster, mas ainda mais alieníngena, alienante. A banda-sonora póstuma da Alemanha devastada. Um postal da Berlim mergulhada nas trevas do trauma bélico. Mas o que se ouve aqui não é nostálgico em absoluto. Será, quanto muito, um grito de revolta emudecido, uma ponte que se atravessa em noite de nevoeiro cerrado para nunca mais voltar à margem errada da História.
Quem assistiu a este concerto no Zodiak Free Arts Lab, na ressaca de celebrações flower power como Monterey, não o deve ter esquecido tão cedo. Isto era de outro mundo. Algumas mentes devem ter mudado radicalmente naquela noite. Outras devem ter sucumbido a pesadelos. Todas devem ter sentido o que a capa do disco projecta.
A música que se ouve neste registo recuperado 40 anos após a sua confrontação é uma amálgama de sons rarefeitos e sombrios. Não existem traços de melodia, nem sequer um ritmo que embale esta inóspita travessia, sobre pavimento acidentado, debaixo de um carregado céu cinzento. São 56 minutos de arame farpado sonoro e ruído lamacento, de contornos industriais. Um espermatozóide de música concreta a fecundar um óvulo de electrónica abstracta. Algo parecido com as (poucas) futuras obras dos Kluster, mas ainda mais alieníngena, alienante. A banda-sonora póstuma da Alemanha devastada. Um postal da Berlim mergulhada nas trevas do trauma bélico. Mas o que se ouve aqui não é nostálgico em absoluto. Será, quanto muito, um grito de revolta emudecido, uma ponte que se atravessa em noite de nevoeiro cerrado para nunca mais voltar à margem errada da História.
Quem assistiu a este concerto no Zodiak Free Arts Lab, na ressaca de celebrações flower power como Monterey, não o deve ter esquecido tão cedo. Isto era de outro mundo. Algumas mentes devem ter mudado radicalmente naquela noite. Outras devem ter sucumbido a pesadelos. Todas devem ter sentido o que a capa do disco projecta.
12 de maio de 2012
Águas Profundas
Há uns dias, por razões insofismáveis, senti a necessidade de procurar informação acerca do minimalismo na música e do uso do drone. Como ainda sou do tempo em que os livros eram respeitados como fonte de sabedoria, desprezei a internet e mergulhei de cabeça em The Eternal Drone: Good vibrations, ancient to future, um ensaio de Marcus Boon presente em Undercurrents: The Hidden Wiring of Modern Music.
É uma obra já com uns aninhos. Data de 2002 e foi editada por Rob Young no seguimento do vigésimo aniversário da Bíblia da música pensante, a revista Wire. Os dez anos entretanto passados não lhe pesaram, pelo contrário, tornaram-na académica e essencial para o estudo das correntes mais radicais e obscuras da música. Constituído por diversos ensaios de vários colaboradores em regime full-time ou part-time da revista britânica, Undercurrents explora os últimos 100 anos em transformações que alteraram o curso das artes sonoras. Desafiante e ousado, seguindo a escola da Wire, este conjunto de dissertações é um autêntico jardim de segredos desvendados, uma mistura do mito e da realidade que fizeram a construção e a destruição da música mais revolucionária do século XX. A minha procura fez-me passar os olhos novamente por ensaios fascinantes e consistentes, como Recording Angels: The esoteric origins of the phonograph de Erik Davis ou On The Mic: How amplification altered the voice for good de Ian Penman. Saciante é igualmente a peça sobre a nova música alemã dos anos 70, escrita por Biba Kopf (The Autobahn Goes On Forever: On the road with Kraftwerk, Neu!, Wim Wenders) e a influência da exploração espacial na música é superlativamente narrada por Ken Hollings em The Solar Myth Approach: Sun Ra, Stockhausen, P-Funk, Hawkwind: the live space ritual.
Undercurrents é, actualmente, leitura obrigatória em muitas universidades onde se professam estudos musicais. O que é obra para uma obra tão fora dos cânones convencionais. Que foi estendida a estudantes quando começou por ser de amantes.
11 de maio de 2012
Blue Bell
Every night I tell myself / I am the Cosmos / I am the Wind. Assim arranca uma das canções mais desamparadas de sempre. I am the Cosmos foi a única canção que Chris Bell viu lançada em vida. Um single de 1978 que, não satisfeito pela devastadora demonstração do lado A, apresenta no lado B a canção de amor perfeita: You and Your Sister.
Após partidas e regressos do meio musical, Bell começava a ser notado e reconhecido. Meses depois, o carro que conduzia embateu numa árvore a meio da noite, o homem terminou e começou a lenda.
Chris Bell foi um dos fundadores dos Big Star, mas abandonou o grupo deprimido pela fraca atenção consagrada ao seu álbum de estreia (dizem as más-línguas que o verdadeiro motivo da sua partida foi a maior preponderância que o mais extrovertido Alex Chilton conquistou no seio da banda...). Vagueou pelos Estados Unidos e pela Europa, tocou maioritariamente em bares e deixou um módico rasto de canções gravadas, algumas em conjunto com os seus ex-comparsas dos Big Star. Lutou contra a rejeição das editoras e morreu quando começou a sentir o primeiro lampejo de verdadeiro reconhecimento. Life's a bitch é a única coisa que apraz dizer...
Após anos, as poeirentas maquetes de Chris Bell foram resgatadas. 1992 (2009 em versão deluxe) assistiu ao lançamento do álbum I am the Cosmos, muito graças ao projecto da 4AD This Mortal Coil, cujo álbum Blood, de 1991, incluiu versões deste excepcional tema e do igualmente belíssimo You and Your Sister. Mas o disco vai muito para além destes dois clássicos. É um composto de baladas infecciosas e atormentadas e de temas na veia mais power pop dos Big Star. Consta que Bell era homossexual e que vivia em constante culpa e repressão dos seus instintos. Para além disso, era um depressivo crónico, que se refugiava na heroína e tentava libertar-se de tudo isto através de uma fé cristã acentuada. Uma mente em profundo e permanente desassossego. Better Save Yourself e Look Up reflectem essa espiritualidade quase irracional, duas lindíssimas canções ornadas de dor e desejo de redenção. There was a Light e a obra-prima Speed of Sound são punhaladas de amor, rasgando as entranhas com paradoxal melodia. A lacrimejante Though I Know She Lies arrasa de vez com qualquer coração despeitado. Quem nunca se fechou num quarto escuro a chorar por amor? Eis a banda-sonora perfeita...
Noutro contexto, os temas mais eléctricos (Get Away, I Got Kinda Lost, I don't Know) descendem em linha directa dos Big Star, especialmente da fase Radio City. Chegam para animar as hostes, são melódicos, directos e robustos, mas não atiram bóia de salvação para os temas mais sofridos e dramáticos de I am the Cosmos. São eles que nos arrastam nesta corrente e nos afogam nas águas turvas da arte turbulenta mas delicada de Chris Bell.
Por triste coincidência, escrevo estas linhas no dia em que perdemos um dos maiores músicos portugueses de sempre, que eu muito admirava e com quem cheguei a trocar umas palavras no velhinho Hot Clube: Bernardo Sassetti. Demasiado cedo e absurdamente. Só lhe posso, humildemente, dedicar este texto.
9 de maio de 2012
Estrela Cadente
Os Big Star ergueram-se, altaneiros, em 1972 com um magistral álbum de estreia. #1 Record era uma Bíblia de pop rock perfeito. Pleno de composições em estado de graça, de melodias doces mas poderosas e comandado pela voz imaculada de Alex Chilton, o disco estava talhado para o sucesso. Mas os Big Star caíram da sua torre mal estruturada. Reagiram à fraca atenção dispensada a uma obra que continha, entre outros, tesouros como Thirteen e The Ballad of El Goodo, reerguendo-se com Radio City. Este regresso, datado de 1974, é considerado hoje um clássico de um género pouco resiliente: o power pop. Foi igualmente laureado pela crítica e está igualmente cheio de excelentes canções (September Gurls, O My Soul, You Get What You Deserve...). Poucos tornaram a ouvir e a estrela voltou a cair.
Reduzidos ao duo Alex Chilton / Jody Stephens, os Big Star entraram em implosão. Reuniram-se em estúdio ainda em 1974 para gravar um novo disco, mas as sessões ficaram para sempre assombradas por infernos pessoais, abuso de substâncias e uma espiral de loucura generalizada. Third, paralelamente conhecido como Sister Lovers, acabou por ver a luz do dia somente em 1978, mas a versão editada em 1992 é considerada a definitiva. É sobre esta que falo hoje.
Third / Sister Lovers é um dos discos mais destroçados, penosos e, em última instância, deprimentes de sempre. É música vagabunda, largada na noite escura para nunca mais voltar a casa. E o mais estranho é que ela própria se alimenta deste romantismo trágico e não quer voltar a porto seguro. Há um monte de músicos de sessão a tocar no disco, mas nem uma orquestra nos píncaros da afinação consegue ludibriar a desolação latente e a auto-sabotagem com que o terrorista Alex Chilton mina as suas próprias criações. Se Pigmalião se apaixonou pela estátua que esculpiu, Chilton parece querer destruir tudo aquilo que compôs. Kizza Me, Jesus Christ e Thank You Friends são o que mais se aproxima dos antigos Big Star. Mas a última, especialmente, é exemplificativa do sarcasmo amargo que brota dos temas mais luminosos.
O mergulho no abismo começa no torpor narcótico de Big Black Car, que tanto pode ser a alegoria de um músico de sucesso transportado na sua limousine como a de um morto transportado num carro funerário e que finalmente encontrou a paz. Sucede-se um ror de temas quase pornográficos na forma como expõem uma alma espancada e ferida de morte. O fantasma demencial de Holocaust nunca deixará de nos acossar nos momentos em que precisamos de algo mais triste que nós. O doce pesadelo de Kangaroo é o trauma de amor que correu mal na nossa adolescência e não mais se dissipou (anos mais tarde foi o primeiro single do projecto This Mortal Coil, que lhe subtraiu desespero e adicionou romantismo). Nightime é a balada de uma relação atormentada. E Take Care, o último tema, aloja-se no nosso coração e derrete qualquer gelo que lá esteja incrustado. Uma canção tão bela quanto frágil, que soa à despedida de alguém que não queremos ver fugir. Inconstante e volátil como é expectável, a edição definitiva de Third / Sister Lovers conta com um total de 18 temas. Por entre originais e versões, a luz e as trevas, fica para sempre o génio mortificado de Alex Chilton, homem com os anjos na voz mas o Diabo no corpo, cuja errática carreira a solo foi sempre reflexo da entrada neste labirinto sem saída. Chilton faleceu em 2010. A sua voz é tão eterna como os anjos.
4 de maio de 2012
Supercordas
A guitarra é o pilar do rock. O falo simbólico que solta ondas eléctricas. O megálito da religião roqueira. Como todos os organismos pulsantes e sujeitos à mão do Homem, a guitarra tem mudado ao longo dos tempos e ao longo das mãos que a domaram. Toscos e génios, virtuosos e espontâneos, todos amam a guitarra à sua maneira. Até quem não tem uma pode sempre matar o desejo no nobre exercício da air guitar, dependendo do seu sentido de ridículo...
It Might Get Loud, documentário de 2008 realizado por Davis Guggenheim (homem cujo currículo fílmico inclui o célebre An Inconvenient Truth), debruça-se sobre a guitarra eléctrica e três grandes figuras eternamente enamoradas dela: Jimmy Page, David "The Edge" Evans e Jack White. Qualquer uma destas personagens dispensa apresentações e o documentário alimenta-se do choque entre as idiossincrasias e as semelhanças entre elas. São três gerações das seis cordas que se sucederam reactivamente. Jimmy Page é o ícone dos anos 70, o gigante que arcava com o peso dos Led Zeppelin e cujas matizes de guitarra variavam entre o bucólico e o orgásmico. The Edge emerge com a inspiração do punk e transforma-se, progressivamente, num rato de laboratório, experimentando sonoridades e arquitectando texturas inovadoras. Mesmo sabendo que os U2 já não são o que eram e que as jactâncias messiânicas de Bono enfadam muita gente, é impossível não admirar um guitarrista desta grandeza. Mas é Jack White quem rouba o filme. Todo ele é mística e surrealismo. O mentor dos White Stripes, Raconteurs e Dead Weather caminha com um pé no rock e outro nos blues. É um branco com alma de negro, que parece ter o espírito infestado de bluesmen do Delta do Mississippi. E trata a guitarra com a sofisticação de quem exorciza os fantasmas que lhe assombram a alma através dela. Em It Might Get Loud, a guitarra não toca baixinho. Essencial para músicos e não-músicos e roqueiros dos 7 aos 77 anos.
It Might Get Loud, documentário de 2008 realizado por Davis Guggenheim (homem cujo currículo fílmico inclui o célebre An Inconvenient Truth), debruça-se sobre a guitarra eléctrica e três grandes figuras eternamente enamoradas dela: Jimmy Page, David "The Edge" Evans e Jack White. Qualquer uma destas personagens dispensa apresentações e o documentário alimenta-se do choque entre as idiossincrasias e as semelhanças entre elas. São três gerações das seis cordas que se sucederam reactivamente. Jimmy Page é o ícone dos anos 70, o gigante que arcava com o peso dos Led Zeppelin e cujas matizes de guitarra variavam entre o bucólico e o orgásmico. The Edge emerge com a inspiração do punk e transforma-se, progressivamente, num rato de laboratório, experimentando sonoridades e arquitectando texturas inovadoras. Mesmo sabendo que os U2 já não são o que eram e que as jactâncias messiânicas de Bono enfadam muita gente, é impossível não admirar um guitarrista desta grandeza. Mas é Jack White quem rouba o filme. Todo ele é mística e surrealismo. O mentor dos White Stripes, Raconteurs e Dead Weather caminha com um pé no rock e outro nos blues. É um branco com alma de negro, que parece ter o espírito infestado de bluesmen do Delta do Mississippi. E trata a guitarra com a sofisticação de quem exorciza os fantasmas que lhe assombram a alma através dela. Em It Might Get Loud, a guitarra não toca baixinho. Essencial para músicos e não-músicos e roqueiros dos 7 aos 77 anos.
It Might Get Loud from Quieren Rock on Vimeo.
Subscrever:
Mensagens (Atom)