Há uns dias, por razões insofismáveis, senti a necessidade de procurar informação acerca do minimalismo na música e do uso do drone. Como ainda sou do tempo em que os livros eram respeitados como fonte de sabedoria, desprezei a internet e mergulhei de cabeça em The Eternal Drone: Good vibrations, ancient to future, um ensaio de Marcus Boon presente em Undercurrents: The Hidden Wiring of Modern Music.
É uma obra já com uns aninhos. Data de 2002 e foi editada por Rob Young no seguimento do vigésimo aniversário da Bíblia da música pensante, a revista Wire. Os dez anos entretanto passados não lhe pesaram, pelo contrário, tornaram-na académica e essencial para o estudo das correntes mais radicais e obscuras da música. Constituído por diversos ensaios de vários colaboradores em regime full-time ou part-time da revista britânica, Undercurrents explora os últimos 100 anos em transformações que alteraram o curso das artes sonoras. Desafiante e ousado, seguindo a escola da Wire, este conjunto de dissertações é um autêntico jardim de segredos desvendados, uma mistura do mito e da realidade que fizeram a construção e a destruição da música mais revolucionária do século XX. A minha procura fez-me passar os olhos novamente por ensaios fascinantes e consistentes, como Recording Angels: The esoteric origins of the phonograph de Erik Davis ou On The Mic: How amplification altered the voice for good de Ian Penman. Saciante é igualmente a peça sobre a nova música alemã dos anos 70, escrita por Biba Kopf (The Autobahn Goes On Forever: On the road with Kraftwerk, Neu!, Wim Wenders) e a influência da exploração espacial na música é superlativamente narrada por Ken Hollings em The Solar Myth Approach: Sun Ra, Stockhausen, P-Funk, Hawkwind: the live space ritual.
Undercurrents é, actualmente, leitura obrigatória em muitas universidades onde se professam estudos musicais. O que é obra para uma obra tão fora dos cânones convencionais. Que foi estendida a estudantes quando começou por ser de amantes.