Krautrock em ponto de fusão. Assim foi a experiência oriental de Alexander Wiska. O primeiro disco saído da mente deste alemão vidrado na música turca foi editado em 1972. Foi baptizado Alex e resultou da joint venture Alex Oriental Experience.
O disco é uma mescla de influências étnicas com a pouca ortodoxia do rock alemão de setentas. Coisa rara mas coisa boa. Basta dizer que os pesos-pesados Holger Czukay e Jaki Liebezeit dos Can estão presentes e dão uma ajuda escandalosamente preciosa. Pejada de instrumentos tradicionais da Turquia, a música de Alex vive de exotismo e transcendência, com os costumeiros rasgos psicadélicos a enfeitar o conjunto. A típica guitarra de três cordas, o baglami, é tratada com estonteante preceito. A secção rítmica dos Can está em topo de forma: Czukay providencia as suas linhas de baixo ondulantes e hipnóticas, para além de subliminares efeitos electrónicos e Liebezeit parece um robot com o diabo no corpo, não se sabendo onde ele acaba e a bateria começa. É sempre um assombro ouvir este génio tocar, particularmente em temas como Patella Black, Derule ou o tremendo Ekmek.
Há uma pequena delícia chamada Turkish Tunes, que nos passeia desde o Bósforo até ao alto dos minaretes, e uma insólita mas apetitosa salada de música étnica e blues chamada Anatoly Highway. Big Boss Smile e Monroe's Song colocam Alex e o seu virtuosismo no spotlight (vide capa do album) e Silent Farewell destoa tanto do resto do disco como um padre católico em Istambul. Estranhamente, soa aos Can com o vocalista Malcolm Mooney em modo lounge. A morder os calcanhares ao supracitado Ekmek fica outro grande tema, Tales of Purple Sally. A voz de gravilha que arranha todo o álbum soa mais encortiçada que nunca e a música é quente e encantatória.
Disco após disco, a vulgaridade começou a tomar conta de Alexander Wiska. Alex será sempre o seu filho pródigo, quer pela qualidade musical, quer pelos venerandos colaboradores que o assistiram, quer pela inovação no cruzamento entre géneros, à partida, tão distantes. E era isto que convinha relembrar à Alemanha cerrada de hoje em dia: mais que credores, eles também são devedores.