A arte sonora do francês Pierre Zalkazanov evidenciou-se, obscura e remotamente, num disco de paisagens electrónicas denominado Green Ray. Tal obra, editada em 1976, permaneceu num recanto poeirento de memórias futuristas, mas merece de sobremaneira o resgate para ouvidos presentes.
O seu charme não reside na novidade ou na audácia - pouco ou nada de novo conseguimos desenterrar do filão electrónico dos idos de 70 -, mas na sedutora envolvência que reveste os três temas que o compõem.
Imagine-se um motor híbrido, criativamente posicionado entre as paisagens infinitamente estelares e estéreis de Klaus Schulze e a sónica torre em mel de Jean-Michel Jarre. Um Volkswagen com as curvas de um Citröen, eis a infraestrutura que alberga Green Ray.
É impossível não olhar esta obra como uma reacção, ou um derivado, da cena electrónica germânica da época. Todavia, ao invés de ser mais um sucedâneo de herméticas ruminações provindas do lado oculto da Lua, o primeiro disco de Zanov apresenta-se como um monolito colorido, um vitral de paisagens gélidas e inóspitas, mas de recortada e tangível beleza.
O tema-título, hipnótico e onírico, resume o condão dos sintetizadores analógicos em criar espirais dançantes de coreografia artificial. Mesmo arcaico, o som é caleidoscópico, servido em camadas que parecem desdobrar-se infinitamente, adornado por tons escuros, mas estranhamente sedutor.
Machine Desperation incorpora um rigor austero e evolui mecanicamente, num pulsar que consome tudo o que encontra na sua roldana. Não existem melodias identificáveis, ou harmonias aconchegantes, mas apenas um convite ao mergulho no vazio, embalado por braços indefinidos.
Green Ray nunca deixa de ser experimental, o que se encontra bem patente na longa e alquímica navegação que o encerra. Running Beyond a Dream revela-se como o astronauta perdido no espaço, estranho a tudo o que o rodeia, mas demasiado fascinado para temer o desconhecido. O tempo parece suspender-se e os sons ecoam como canto de sereias. Ao nível do melhor do supramencionado Schulze ou dos Tangerine Dream, esta peça constitui uma verdadeira delícia para os amantes da música que encerra nos seus domínios o espaço profundo.
Belo na sua essência e recompensador no seu transe atonal mas inebriante, Green Ray é uma estrela distante, mas intensamente brilhante, da era de ouro da música electrónica. Ouvi-lo hoje é, simultaneamente, nostálgico e desafiante. E tão recompensador como sentir saudades de um futuro que poderia ter sido idêntico ao que sonhámos.
O seu charme não reside na novidade ou na audácia - pouco ou nada de novo conseguimos desenterrar do filão electrónico dos idos de 70 -, mas na sedutora envolvência que reveste os três temas que o compõem.
Imagine-se um motor híbrido, criativamente posicionado entre as paisagens infinitamente estelares e estéreis de Klaus Schulze e a sónica torre em mel de Jean-Michel Jarre. Um Volkswagen com as curvas de um Citröen, eis a infraestrutura que alberga Green Ray.
É impossível não olhar esta obra como uma reacção, ou um derivado, da cena electrónica germânica da época. Todavia, ao invés de ser mais um sucedâneo de herméticas ruminações provindas do lado oculto da Lua, o primeiro disco de Zanov apresenta-se como um monolito colorido, um vitral de paisagens gélidas e inóspitas, mas de recortada e tangível beleza.
O tema-título, hipnótico e onírico, resume o condão dos sintetizadores analógicos em criar espirais dançantes de coreografia artificial. Mesmo arcaico, o som é caleidoscópico, servido em camadas que parecem desdobrar-se infinitamente, adornado por tons escuros, mas estranhamente sedutor.
Machine Desperation incorpora um rigor austero e evolui mecanicamente, num pulsar que consome tudo o que encontra na sua roldana. Não existem melodias identificáveis, ou harmonias aconchegantes, mas apenas um convite ao mergulho no vazio, embalado por braços indefinidos.
Green Ray nunca deixa de ser experimental, o que se encontra bem patente na longa e alquímica navegação que o encerra. Running Beyond a Dream revela-se como o astronauta perdido no espaço, estranho a tudo o que o rodeia, mas demasiado fascinado para temer o desconhecido. O tempo parece suspender-se e os sons ecoam como canto de sereias. Ao nível do melhor do supramencionado Schulze ou dos Tangerine Dream, esta peça constitui uma verdadeira delícia para os amantes da música que encerra nos seus domínios o espaço profundo.
Belo na sua essência e recompensador no seu transe atonal mas inebriante, Green Ray é uma estrela distante, mas intensamente brilhante, da era de ouro da música electrónica. Ouvi-lo hoje é, simultaneamente, nostálgico e desafiante. E tão recompensador como sentir saudades de um futuro que poderia ter sido idêntico ao que sonhámos.