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Se existem bandas injustamente condenadas ao esquecimento, estes californianos são membros honorários do clube. Formado por trabalhadores que ensaiavam nas primeiras horas da manhã, e antes dos seus afazeres proletários, a estranheza deste quinteto acentua-se pelo facto de se assumirem como uma banda cristã. Mas que soa como se tivesse o diabo no corpo.
O que torna os Fraction apelativos é a entrega verdadeira que colocam em cada nota tocada e sílaba cantada. Uma urgência ponderada, mas igualmente ritualista. Certos arautos anunciam Moon Blood como o álbum que os Doors nunca fizeram mas que sempre almejaram, e é notória a aproximação - entre o transe e a explosão - do vocalista Jim Beach a Jim Morrison. Todavia, a ausência dos teclados floreados de Ray Manzarek e a preponderância das guitarras, regurgita ecos da escuridão dos Black Sabbath e da intensidade dos Stooges.
É tarefa complicada apontar pontos altos a uma obra tão monolítica e consistente como Moon Blood, o único longa-duração do grupo. O álbum funciona como um turíbulo que asperge incenso heavy psych a cada movimento. O ano do seu lançamento remonta a 1971, mas parece obra padroeira do stoner rock.
Se a produção reflecte os meios state of the art da época, podemos agradecer o facto dos Fraction não terem sofrido uma lapidação artificial. O som é crú e os únicos efeitos que prevalecem e intoxicam são o fuzz das guitarras, filhas pródigas do psicadelismo. Os ritmos são densos e narcóticos, acentuando o inusitado cocktail bíblico-roqueiro que evangeliza o ouvinte pela incineração.
Um enorme disco de uma enorme e perdida banda, Moon Blood ganha, actualmente, contornos de fanatismo no que concerne à sua edição original. Delícia para melómanos obsessivos (e cristãos propensos a romarias ácidas de quando em vez), o encanto hipnótico e denso de Sanc-Divided, Come Out of Her, Eye of the Hurricane, Sons Come to Birth e This Bird (Sky High) urge ser reavivado ad aeternum, pois nunca será ad nauseam. Prisms, Dawning Light e Intercessor's Blues são apêndices que completam a reedição do disco, surgida em 2010, e que não abanam, de forma alguma, os pilares que o sustentam.
Indubitavelmente um dos discos mais intensos, penetrantes e intoxicantes do rock americano pós-Woodstock, Moon Blood retém o espírito da era, mas aventura-se por labirintos sem medo de não encontrar a saída. Se a fé move montanhas, esta obscura e deslumbrante obra-prima comprova-o fervorosamente.