When I was young, I never dreamed of this. I dreamed of colours and falling, among other things. Assim arranca o prefácio de Waging Heavy Peace, a primeira - e única, até à data - autobiografia de Neil Young, editada em 2012. Na senda destas palavras e com o subtítulo A Hippie Dream, o livro empreende uma reflexão pungente dos aspectos mais recatados da vida do músico canadiano. A sua família, hobbies, obsessões e meditações desfilam em ruminações algures entre o improviso e o imprevisto. O estilo narrativo é não-linear, não obedece a regras temporais e saltita evocativamente entre memórias.
A carreira musical de Young raramente aparece em primeiro plano ou envolta em ostentação. Estão presentes, contudo, relatos estilhaçados e breves como polaroids dos seus primórdios artísticos nos seminais Buffalo Springfield, da ascenção à fama em conjunto com Crosby, Stills & Nash e da sua consolidação a solo.
Na sua essência, Waging Heavy Peace não é um livro para neófitos. Dirige-se, sobretudo, a admiradores de longo curso em busca de saber do homem que vive para além da arte. Ao longo desta obra absorvente, a pena de Neil Young desvela amores e fraquezas, medos e paixões, por vezes surpreendentes, por vezes hilariantes, mas sempre com honestidade. Outra coisa não seria de esperar de alguém que afirma ter decidido escrever o livro após partir um dedo do pé à beira da piscina...