O primeiro álbum dos Stone Roses entrou de rompante em 1989 e pintou as terras de Sua Majestade com as pingas multicolores a la Jackson Pollock que a capa do disco tão bem emulava. Salvo raras excepções, o panorama musical do final dos anos 80 tinha-se tornado cinzento, previsível e sensaborão. Pelo menos, nada anteciparia a chegada de algo assim. Um disco intemporal, incandescente e docemente psicadélico, cuja luminosidade e altivez colocava a banda de Manchester num patamar totalmente à parte dos seus pares. A imprensa britânica considerou-os a coisa mais excitante a acontecer na música do seu país desde os Sex Pistols e daí ao firmamento foi um passo. A tendência para o caos e a auto-destruição geraram uma espiral descendente que culminou na edição tantas vezes prometida e adiada de um Second Coming muito aquém das expectativas. Conflitos internos e maquinações da indústria musical deram o golpe de misericórdia aos príncipes da Madchester.
Tudo isto e muito mais é contado rigorosa e exaustivamente em War and Peace, a mais completa biografia dos Stone Roses até à data. Escrito pelo jornalista Simon Spence e editado em 2013, após a surpreendente reunião de Ian Brown, John Squire, Mani e Reni, o livro baseia-se em 400 horas de entrevistas com individualidades próximas do grupo, incluindo antigos membros da sua formação. De jogos de baseball em estúdio usando bolas de bilhar, à fase em que o vocalista Ian Brown apenas comia batatas fritas, passando pela bipolar relação entre a banda e a imprensa, War and Peace tem tudo o que é preciso para agradar a admiradores casuais e a fanáticos de longa data. Aqueles que alguma vez se perguntaram o porquê de tanta importância dada aos Stone Roses, encontrarão aqui todas as respostas. E o mais certo é ficarem convertidos.