12 de março de 2009

Men In Black


They are too old to be punks, but too outrageous not to be. Este tipo de frases definia e descrevia os Stranglers quando surgiram com o seu primeiro álbum em 1977, em pleno acme da revolução punk. Rattus Norvegicus era um álbum possuído por uma atitude de cinismo, ameaça e confrontação, mas, e ao contrário da maioria das bandas britânicas da época, interpretado numa toada virtuosista e melodicamente sombria que tanto os aproximava dos Clash como dos Doors. Temas como (Get a) Grip (on Yourself) ou o fabuloso Hanging Around eram ao mesmo tempo actuais e remotos, como se os Stranglers incorporassem elementos de classicismo no punk, em vez de adoptarem única e exclusivamente uma estratégia D.I.Y.. Solos de guitarra e órgão e canções com mais de 3 minutos não eram propriamente queridos das bandas punk da época, mas os Stranglers faziam-no e não deixaram de ser uma das bandas mais controversas e com uma das auras mais negras da história. Uma banda de e para homens de barba rija, poderíamos afirmar, ou não fossem os temas abordados muitas vezes misóginos e versando uma certa submissão sexual feminina, como em Peaches ou Bring On The Nubiles. Entre outras rebeldias e comportamentos confrontacionais, são de realçar igualmente o encarceramento esporádico de membros da banda por drogas e violência, o facto de lançarem fumo tóxico sobre as audiências na tournée do álbum The Raven e a recusa em tocar ao vivo o seu maior sucesso de sempre, Golden Brown, o que, invariavelmente, dava origem a motins nos concertos...
Após os viscerais e enérgicos No More Heroes e Black & White e com o canto do cisne da era dourada do punk inglês, os Stranglers acharam por bem mudar de rumo, suavizando e complexificando a sua sonoridade. Após um álbum de transição, mas com bons argumentos (o supracitado The Raven) e a experiência semi-falhada de The Gospel According to the Meninblack (trabalho empolado no qual a perfeição se esgota na primeira faixa...), surge em 1981 o que muitos consideram ser a obra-prima da banda: La Folie. Mais influenciado pela New Wave americana do que pelo Pós-Punk britânico da altura, o álbum resume eficazmente a essência dos Stranglers, misturando a agressividade dos primórdios a belas e oníricas melodias. A partir daqui, a mediodridade e a decrepitude foram lentamente instalando-se. Os discos subsequentes, Feline e Aural Sculpture têm a sua quota de bons momentos e das típicas melodias doces com palavras azedas, mas nunca alcançam o brilhantismo do passado. Dreamtime é praticamente dispensável, assim como quase tudo o que se segue. A banda verá um fugaz ressurgimento com os dois últimos álbuns, Norfolk Coast e Suite XVI, trabalhos decentes, mas que funcionam mais como combustível para o enorme culto que a banda possui em Inglaterra e em França, sendo que os lusitanos sempre foram igualmente entusiastas do quarteto de Guilford. Há alguns anos sem o vocalista original Hugh Cornwell (que, ao que consta, recebeu ameaças de morte quando deixou a banda - isto sim, são fãs dedicados!), os Stranglers encontram-se actualmente sob o comando do baixista Jean-Jacques Burnel, frontman não menos carismático e que dá voz a um dos temas mais belos e distintos da banda, La Folie, cujo vídeo conclui esta dissertação. Mesmo sem a relevância e a lendária agressividade de outrora, este grupo deve ser recordado como um dos melhores do planeta entre fins de setenta e a primeira metade dos anos oitenta.