Exceptuando os dois primeiros álbuns da banda supracitada, Thomas foi o baterista de serviço nos projectos do irmão mais velho e assumiu esse papel de forma mais proeminente nos não tão geniais mas não menos superlativos La! Düsseldorf. Este papel mais ou menos secundário e potenciador de um esquecimento instintivo, não o impediu de gravar a solo um álbum de rara beleza e raro de encontrar que dá pelo nome de Für Mich.
Nesta edição de 1982, já longe da era clássica e mais inventiva do rock alemão da primeira metade dos anos 70, encontramos um disco que parece tudo menos criação de um baterista. Obra essencialmente atmosférica e minimal, principia com o sublime Ballgeflüster, elegia electrónica, outonal e hipnótica, uma dança em espiral que se eleva lentamente até ao desmaio final. Leierkasten será provavelmente um intróito do hermético humor teutónico e passa como uma nuvem até aos latidos caninos que abrem Für Dich, tema enraizado na melhor tradição dos Neu! e La! Düsseldorf e o que melhor deixa transparecer o instinto rítmico de Thomas Dinger. Melodia a motor, que se entranha na pele e nos transporta em mais uma viagem de partida incerta e sem destino. E-605, a próxima paragem, será, talvez, a peça-chave do álbum. Um início lento, lentíssimo, quase fúnebre na desolação sonora que se vai revelando aos poucos, abre caminho a um piano delicado e a um xilofone que o segue como uma sombra. A bateria surge, esparsa e marcial, marcando o ritmo de uma longa marcha em câmara lenta que os Joy Division aplaudiriam de pé. O significado disto? Não interessa. Para onde caminha esta triste e dolente procissão musical? Menos ainda. Mas não importa. Música assim não é para interpretar, somente para sentir o privilégio de a podermos ouvir. Alleewalzer prossegue a toada elegíaca mas melódica, desta feita em modo electrónico-celestial, impregnado de nostalgia. Provavelmente por algo aconchegante que já tivémos e perdemos. Für Euch encerra o disco, com brevidade e abstracção, como se o que o que se tivesse passado antes não fosse para ser lembrado e o despertador da realidade iniciasse o seu triste martelar. Como foi dito, esta não parece ser a obra de um baterista. Mas os irmãos Dinger sempre desafiaram o óbvio. E este mundo já está saturadamente cheio de coisas previsíveis...