1 de março de 2009
Weeping Wall of Sound
Um artista que assina a sua obra como Dion pode, à partida, causar calafrios a qualquer melómano mais incauto e conhecedor das terríveis consequências que poderão advir de tal nome. Não é o caso de Dion DiMucci, ítalo-americano que, em 1974, editou uma obra-prima intitulada Born To Be With You. Este assombroso álbum foi produzido por Phil Spector, homem conhecido pelas sua postura excêntrica e megalómana. Para não destoar das tendências artísticas de Spector, nomeadamente do seu sobejamente conhecido método de produção Wall of Sound, foram trazidos para acompanhar Dion nas gravações de estúdio 40 músicos, incluindo doze guitarristas, sete percurssionistas e cinco pianistas. O que indicia uma obra pesadamente barroca, a transbordar de instrumentos e excessivamente orquestrada, resume-se a um dos discos mais belos que o mundo alguma vez conheceu. Talvez porque, quer Dion, quer Spector, estivessem em fase descendente em ambas as carreiras, a música de Born To Be With You é uma repetida catarse e uma meditação profunda sobre o amor, a decadência e o envelhecimento inexorável. A prestação vocal de Dion é majestosa na entrega e expressividade que demonstra e, aliada a uma instrumentação voluptuosa e irrepreensível, desencadeia um efeito arrepiante e devastador a quem se deixar levar por este turbilhão emocional. Temas incandescentes e a roçar o divino, como Born To Be With You ou (He's Got) The Whole World In His Hands, aliados ao desencanto de In And Out Of The Shadows, ao desejo desesperado de Make The Woman Love Me e ao amor cansado de Only You Know são diamantes, logo, eternos. E o eco daquela voz... mas que voz!