21 de julho de 2009

Dieta Mediterrânica III

O primeiro álbum do colectivo romano Quella Vecchia Locanda é mais um monumento à sofisticação que os italianos conseguiram incorporar no rock mais arty dos inícios da década de 70 do século passado. Um dos melhores, todavia. Incorporando belíssimamente elementos de flauta e de violino eléctrico nas suas composições semi-clássicas, o álbum homónimo desta banda é um fluir constante de soberbas melodias e fantasmáticas evocações. Prologo inicia a viagem em passos hesitantes de violino e piano, que logo se tornam confiantes com a entrada de uma secção rítmica marcial. O que sobra é uma letra fatalista, sobriamente cantada, e uma quebra aos 3 minutos de duração que arrasta e acentua a já intocável melodia. Un Villaggio, Un' Illusione começa em toada clássica, com o violino de Donald Lax (um americano em Roma...) a abrir majestosamente uma peça reminiscente do melhor dos Jethro Tull, mas com uma latinidade mais que expressiva. Alheia a isto não é a flauta pungente do igualmente vocalista Giorgio Giorgi, que prossegue docilmente no belíssimo Realtà. Balada executada de forma sublime por todos os intervenientes, recupera pela enésima vez o efeito nostálgico e inebriante de uma Itália renascentista, riquíssima e monumental, com efeitos devastadores. Quem diria que a maior parte destas bandas eram de esquerda?
Immagini Sfuocate é mesmo uma imagem desfocada, melodia distorcida pela guitarra invasiva de Raimondo Maria Cocco, que empalidece subitamente e transita para Il Cieco. Provavelmente o tema do álbum onde o improviso mais impera, a instrumentação é deixada ad lib do princípio ao fim, em ondulações jazz-rock que terminam com um brevíssimo violino de reminiscências Grapellianas. Dialogo prossegue numa senda mais rítmica, subordinado ao som característico do sintetizador (tastiera) de Massimo Roselli. O clacissismo impera novamente em Verso la Locanda, particularmente no magnífico violino introdutório, ao qual se segue outra cascata melódica, bela e irrepreensível, frenética e com mais uns pozinhos jazzísticos.
Mas estes afastados descendentes de Rómulo e Remo deixam o melhor para o fim. É quase indescritível a melancolia que impregna Sogno, Risveglio e... de uma beleza decadente e secular. Os Quella Vecchia Locanda podem ser romanos, mas é quase impossível não imaginar uma Veneza outonal que se afunda, lenta mas inexoravelmente, ao som do comovente carpir do piano e do violino gemebundo. Como se tudo o que é belo terá forçosamente de ser mortal, assim se extingue de forma sublime esta obra-prima...