Green Desert arranca com o tema homónimo, 5 minutos iniciais de projecção sintetizada no espaço glaciar até à entrada dos restantes instrumentos. A guitarra planante de Edgar Froese e a bateria lenta, circular de Chris Franke fazem-nos viajar pela escuridão de galáxias distantes, desoladas mas coloridas, disformes mas pulsantes. A viagem parece durar uma eternidade, com o insistente vórtice rítmico a exigir de nós um quase torpor e abandono, como se fôssemos satélites a girar em torno da música que fustiga como vento sideral. Já totalmente em órbita após estes 20 minutos fora da Terra, a sensação de fuga prossegue com o magistral White Clouds. Tangerine Dream no seu mais clássico e frio, o tema vagueia por entre a invernal e majestosa melodia do sintetizador de Froese e a cadência maquinal da bateria de Franke, para nos transportar a um mundo de gelo, desolado e inóspito, mas deslumbrante na sua beleza estéril. Astral Voyager é dominada por um sequenciador minimal, daqueles que anteciparam a trance music em 20 anos, e embrulhada em sintetizadores que bafejam poeira estelar. Mais uma volta no carrossel cósmico, imenso e infinito, sinalizado por corpos celestes que, aqui e ali, interrompem a constante do breu. O périplo termina com Indian Summer e a sua electrónica espaçada e flutuante. Peça simples, é atravessada por uma sensação de deslumbramento e procura interior perante o Universo que nos transcende, mas de cuja matéria somos igualmente feitos. Um convite à meditação, envolvente mas não soporífero, que encerra o disco de forma morna e apaziguadora. Como se depois da tempestade viesse sempre a bonança. Como se, à escuridão vazia do espaço, se sucedesse a luz de um mundo paradisíaco, deserto e verde. Para começar de novo.
Green Desert não é o melhor álbum dos Tangerine Dream, mas é uma obra fundamental para adicionar aos anos de ouro e mais vanguardistas da banda, entre a flamejante electrónica experimental de 1969 e as texturas mais formais e melódicas de 1983.