In The Silence Of The Morning Sunrise, que principia com o canto de pássaros, atenua a ambiência, muito graças ao superlativo desempenho de Michael Hoenig nas teclas que acompanham as seis cordas, o que confere ao tema uma brisa pastoral e estival muito remanescente da onda west coast americana. Escutar este tema é como vaguear por um bosque numa manhã de Verão, onde a sombra revigora e o Sol surge, a espaços, por entre a viçosa folhagem das árvores. Esta vertente prolonga-se por A Quiet Walk, 9 minutos deambulantes por veredas electrónicas e planícies intercortadas pela singular sonoridade do bouzouki de Lutz Ulbrich. O instrumento grego inflecte algo de mediterrânico na música, a proximidade do mar, o aroma do restolho...
A terminar, o único tema vocalizado do disco. Numa atmosfera assombrada e onírica, ácida até à medula, Burghard Rausch recita Dreamland, poema de Edgar Allan Poe, como se o fizesse dentro de um escafandro dos inícios do século XX. Alimentada a mellotron, esta peça é nada menos que penetrante, possuíndo o condão de deixar vidrado e perdido nesta terra de sonho o feliz ouvinte que a procura. Densa e acessível em simultâneo, esta música é um panegírico para a alma. Em 2nd dos Agitation Free encontra-se mais um excelente álbum dos anos 70, Krautrock possuído por espíritos jazzísticos, brisas west coast e alguns pozinhos de progressivo que não matam nem moem. Imprescindível e muito aconselhável para quem, como eu, sofre de uma paixão assolapada pela Costa Vicentina. É banda-sonora perfeita para conduzir pelas estradas rodeadas de campo avermelhado pelo Sol e experienciar as praias semi-desertas daquele paraíso. Pelo que tenho oportunidade de experienciar naquelas paragens, muitos alemães sentirão o mesmo.