8 de maio de 2010

Kosmische Kosmetik XII

O nome é idêntico ao do célebre romance de Hermann Hesse, mas sairá defraudado quem vier procurar nestes Siddhartha a simplicidade e o Om primordial que transbordam do livro. O único álbum desta banda de Estugarda, datado de 1975, é um disco complexo e denso, onde o virtuosismo mais classicista abraça o mais desgarrado experimentalismo. Looking in the Past, o primeiro tema, é, grosso modo, um trecho para guitarra e órgão, opulentamente arty e progressivo até à medula. Assim sendo, a vocalização de Gabi Rossmanith (algures entre Renate Knaup-Kroetenschwanz dos Amon Düul e a Dagmar Krause do período Slapp Happy), soa estranhamente desfocada do todo, o que confere à peça uma tonalidade ainda mais retalhada.
Tanz im Schnee é um instrumental que inicia a galope os seus 5 minutos, sofrendo várias alterações de passo pelo caminho e atingindo o clímax num ribombar cintilante de órgão. Tema vincadamente clássico, emana fragrâncias do progressivo alemão mais melódico, muito ao gosto dos Grossnicht, e cria texturas para teclado que lembram amiúde os Egg.
A atmosfera mais tristonha que se espera de um álbum intitulado, como este foi, Weltschmerz (A Dor do Mundo), desponta à terceira faixa, contraditoriamente intitulada Times of Delight. Apesar da óptima intrusão de um violino, a predominância instrumental continua a ser dada à guitarra e as teclas, em constante duelo, e, aqui em particular, com um feeling melódico e melancólico sublimes. Cortado ao meio por uma quase-canção, é um tema típico de uma certa angústia tipicamente germânica e que se expressa com todo o seu peso existencial nesta sonoridade. A toada maioritariamente dolente continua em Weit Weg, longo trecho que oscila entre o introspectivo e o exuberante. Elementos novos, como flauta, guitarra acústica e, inclusivé, uma insuspeita tuba, povoam esta extensa peça, que consegue manter-se cativante ao longo dos seus 10 minutos devido às constantes voltas e piruetas que os músicos lhe injectam.
Um órgão chegado à frente e um violino a espreitar por detrás marcam o tempo da derradeira canção do disco, Gift of the Fool. O cinzentismo prevalece, a guitarra lacrimeja e a voz oscila entre a entrega operática e o desligamento espectral.
De Weltschmerz só se pode dizer que é uma obra de saudável incoerência. Um disco inclassificável, daqueles que utilizam toda a paleta de sonoridades possível para expressar os seus intentos. Numa altura em que o período mais criativo e profícuo do Krautrock já seduzia algum mainstream, este disco vem reafirmar que as primeiras intenções desta geração de músicos foi criar arte libérrima e descomprometida, pura e dura na sua obscuridade.