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25 de julho de 2010
Advanced Beauty
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24 de julho de 2010
Musicoterapia
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Don Campbell, estudante e erudito musical texano, celebra actualmente a primeira década de existência do seu seminal livro O Efeito Mozart. Obra baseada e alicerçada em estudos científicos decorrentes dos supracitados, é um excelente manual para descobrir e acentuar as capacidades terapêuticas, criativas e sensoriais da música, em todas as suas manifestações. Essencial para o entendimento da musicoterapia, O Efeito Mozart transcende a visão da música como arte e entretenimento. Define-a como meio de comunicação intrínseca e universal, uma espécie de esperanto sonoro, carregada de simbolismo e potencial terapêutico.
Recentemente, novos estudos efectuados pela Universidade de Psicologia de Viena vieram contrariar a existência do Efeito Mozart como catalisador da inteligência. A conclusão é que os ouvintes de música (seja ela do génio de Salzburg ou outra) conseguem um melhor desempenho em testes cognitivos que aqueles remetidos ao silêncio total. Facto consumado: com ou sem Mozart nos altifalantes, as capacidades mentais melhoram com música por perto. Para benefício do crescimento psicológico de quem lê, ou dos filhos de quem lê, há que espalhar a mensagem... Acerca do livro aqui falado (e muito recomendado) e do seu nobre autor, mais informações podem ser adquiridas em http://www.mozarteffect.com/.
17 de julho de 2010
Lusofonia IV
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António Olaio, o performer, pintor, professor e etc., tem levado a cabo uma carreira musical periférica em conjunto com João Taborda. O duo lança discos embebidos, maioritariamente, em poesia surreal e country & blues desconcertante, com grande poder imagético. Os Repórter Estrábico, liderados actualmente (?) por Luciano Barbosa (o campino cool da foto acima), sempre se caracterizaram pela pop electrónica inteligente, quer ao nível das letras plenas de referências e sátiras à cultura de massas, quer ao nível das melodias versáteis e dançáveis. Fazem vídeos de sarcástica excelência e possuem a irreverência e a ironia certeira dos homens do Norte. Se não dessem a cara, podiam ser os nossos Residents. Deviam voltar para pôr desordem nisto. Ainda por cima são generosos: em http://www.reporterestrabico.com/ podemos ouvir cada álbum por inteiro, acompanhado das respectivas estrofes.
16 de julho de 2010
Dieta Mediterrânica VII
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Per un Amico foi um dos poucos discos que extrapolou além das fronteiras transalpinas, alcançando um considerável frissom na Inglaterra. A sua qualidade é inegável e assenta numa bela e escorreita mescla entre momentos brumosos e etéreos e rasgos viscerais e sanguíneos, muito ao estilo dos Van Der Graaf Generator.
O álbum abre fabulosamente com a leveza do theorbo em Appena un Po', tema que percorre toda a cartilha clássica, injecta-a de fulgor e vibra com um romantismo pulsante. Segue-se o dramático e intenso Generale, que avança desembestado, detém-se numa circular melodia militarizada, e prossegue a cavalgada, sem nunca desbaratar o rigor instrumental. Ventos mais amenos embalam-nos à terceira faixa. Per un Amico é magnífica em todos os sentidos. Das elásticas e imprevisíveis variações melódicas e de tempo à voz afastada mas sentida de Franco Mussida, a entrega é perfeita.
Il Banchetto é a prova que o rock progressivo não tem que ser massudo, carecer de sentido e assentar em faixas de 20 minutos para manifestar as suas intenções artísticas. Este tema, que conjuga mellotron, harpa, flauta e moog é um enorme swell sonoro, oceânico e poderoso, magnificamente executado sem perder o norte. Geranio é o último tema do álbum, que só peca por ser curto. Obviamente, é belíssimo e extremamente bem composto, guardando uma sensibilidade mainstream nos seus interstícios que o faz fluir com facilidade e transcender a rigidez de um estilo. Aliás, todo o disco é uma combinação de melodias geniais e composições inteligentes, o que o torna uma das mais inventivas obras de sempre do rock italiano. A acompanhar com um Chianti, à medida que cresce água na boca (mas um não muito caro, que a vida não está para luxos).
Dieta Mediterrânica VI
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Primo Tempo ostenta guitarras e ritmos densos e pouco habituais na suave e subtil paleta de sons que domina o progressivo italiano. Soam espigões melódicos dos King Crimson dos inícios, temperados pela brisa do Tirreno.
Secondo Tempo é o momento mais delicioso do álbum. Primaveril e salvífico, ofuscante de flauta e sopros, poderia bem ser a génese de Ce-Matin La, tema da mesma estirpe presente em Moon Safari dos Air.
Terzo Tempo parece brotar de um aquecimento para os dedos de Ritchie Blackmore, evoluíndo para um épico rock, mais chegado à tradição inglesa, traído pelo linguajar de Enrico Rosa e pelos intróitos de flauta de Alfredo Barducci.
Quarto Tempo é uma fuga. Irrompe a galope, contorcendo-se sobre si mesmo, assombrado por um órgão que surge de todos os lados. Desaparece na evocação de algo que já foi ouvido aqui.
Quinto Tempo prova o ecletismo do disco e as suas metamorfoses musicais. É o tema mais orgulhosamente poeirento. Estamos num museu de cera? Ou no salão de um palácio florentino, rodeado por fantasmas que dançam um baile setencentista sem notarem a nossa intrusiva presença?
Sesto Tempo é outro tema sem tempo. A capacidade dos Campo di Marte de injectarem onirismo nas suas composições é notável, sendo que a ponte entre o clássico e o moderno é fácil de erigir. Se o pós-rock é a utilização de instrumentos do universo rock para fazer música futurista que em nada se lhe assemelha, aqui consegue-se o efeito inverso: a electricidade coloca-se ao serviço do classicismo, vestindo-lhe nova roupagem. Chamar-lhe pré-rock seria foleiro até à medula, até porque a denominação rock sinfónico caracteriza-o na perfeição desde há muito. Mas o que é certo é que a banda toca com instrumentos rock música que em muito o antecedeu.
Settimo Tempo é mais do majestoso mesmo. Beleza pura, sem vergonha de mostrar o que esconde, enfatizada pelo músculo delineado da energia roqueira. Como a estátua de David, aliás. Clássica e imortal.
15 de julho de 2010
O Belo e o Geoespaço
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11 de julho de 2010
Lusofonia III
Esquisitos demais quando apareceram, ostracizados pelo nacional-conservadorismo e apaparicados por uma certa vanguarda rive-gâuche, é reconfortante saber que os Pop dell' Arte ainda cá estão. O recentemente editado Contra Mundum pode já não recuperar o onirismo surrealista e demencial de Free Pop ou a perfeita pop vanguardista de Sex Symbol, mas é uma obra solidamente blasé de um colectivo que transformou radicalmente o panorama musical luso.
De tudo quanto foi feito, do inestimável legado que os Pop dell' Arte deixaram à nação, vale a pena relembrar Querelle, de 1987. Uma secção rítmica de excepção, poderosa e infiltrante, quase a roçar os Can, e os murmúrios áspero-aveludados de cabaret decadente do incomparável João Peste foram uma lufada de ar fresco no, até então, sempre previsível rock em português. Por essa altura, a magnânima editora Ama Romanta dava os seus primeiros passos como entidade divulgadora da música mais aventureira, radical e futurista feita em Portugal e o Bairro Alto via Frágil, Três Pastorinhos ou Nova era poiso obrigatório para a falange que tinha um pé na vanguarda e outro no hedonismo. Respirava-se algo novo, mais tarde haveria de aparecer a saudosa revista K e Portugal prometia algo, mesmo que vago. Algo que, apesar da belíssima música que ainda brota, por vezes, do burgo, não veio a cumprir. Mas nunca é tarde...
De tudo quanto foi feito, do inestimável legado que os Pop dell' Arte deixaram à nação, vale a pena relembrar Querelle, de 1987. Uma secção rítmica de excepção, poderosa e infiltrante, quase a roçar os Can, e os murmúrios áspero-aveludados de cabaret decadente do incomparável João Peste foram uma lufada de ar fresco no, até então, sempre previsível rock em português. Por essa altura, a magnânima editora Ama Romanta dava os seus primeiros passos como entidade divulgadora da música mais aventureira, radical e futurista feita em Portugal e o Bairro Alto via Frágil, Três Pastorinhos ou Nova era poiso obrigatório para a falange que tinha um pé na vanguarda e outro no hedonismo. Respirava-se algo novo, mais tarde haveria de aparecer a saudosa revista K e Portugal prometia algo, mesmo que vago. Algo que, apesar da belíssima música que ainda brota, por vezes, do burgo, não veio a cumprir. Mas nunca é tarde...
Dieta Mediterrânica V
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O disco prossegue com o soberbo e lindíssimo Evviva La Contea Di Lane. Canção perfumada com aromas de folk e floreados de Canterbury, guarda uma flauta nada menos que dulcíssima e invade-nos com a claridade de uma manhã de Verão. Inicia com a brisa de uma aurora morna e termina com o calor abrasador de um Sol a pique. O terceiro tema segue a tendência de muitos discos da época e preenche todo o lado B da edição em vinil. Dividido em cinco partes, All'Uomo Che Raccoglie I Cartoni é o pote de ouro no fim do arco-íris para qualquer entusiasta do rock progressivo. Enlaça-se e desvela-se numa infinita miríade de variações, sorvendo estilos e debitando melodias belíssimas pelo caminho. Todos os instrumentos têm uma palavra a dizer e soltam-na com graça, eloquência e a dose certa de improviso.
A edição em CD de Buon Vecchio Charlie acrescentou-lhe duas faixas extra, qualquer delas ao nível criativo do disco-mãe, mas menos orientadas para a sua homogeneidade progressiva. Rosa é uma sentida e terna balada, moldada em torno de um lacrimoso e solitário refrão e em que os intrumentos quase e só servem de muleta à voz embargada. A um minuto e pouco do fim, emudece a voz e o tema deixa-se levar por um fugaz devaneio jazzístico até se evaporar. Totalmente diferente é a alegre e charmosa Il Guardiano Della Valle, que tanto evoca tonalidades campestres e medievais como poderia servir de canção de protesto a militantes barbudos do Partido Comunista Italiano.
Sem data bem definida de lançamento (as opiniões divergem entre 1971 e 1972), este disco é igualmente algo indefinido, que surge das brumas do tempo para encantar. Indivísivel do rock progressivo, Buon Vecchio Charlie é igualmente uma obra que ultrapassa este nicho, devendo ser olhada como mais um capítulo inesquecível de uma Era de Ouro da música italiana.
10 de julho de 2010
Kosmische Kosmetik XIV
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Intensamente jazzística e dotada de um imenso poder idiossincrático e de improviso, a banda lança em Känguru a sua cartada mais certeira e, provavelmente, a sua obra melhor conseguida. Espraiado por 4 temas sem medo da expansão temporal, é uma fonte de maravilhas mascarada de guitarras oceânicas e ritmos em total liberdade.
Oxymoron abre o álbum viscosamente, com as seis cordas, o baixo e a bateria a imiscuirem-se pantanosamente e a arrastarem-nos para a sua dimensão pegajosa. Neumeier trata os bombos e os pratos como só ele sabe e entrega-se a uma ladaínha que soa a um blues confusional. Ooga-Booga fecha o disco revisitando os trâmites do rock'n'roll clássico, para depois o virar do avesso e expôr-lhe as entranhas dilaceradas por golpes psicadélicos e mordidelas tribalísticas. Como sempre, o óbvio não mora aqui e o imprevisível espreita a cada nota debitada. Pelo meio, ficam Immer Lustig e Baby Cake Walk. A primeira faz-se anunciar por uma espécie de apresentação de combate de luta livre, ao que se segue uma marcha pesadona em tons de fanfarra. É então que a peça se fractura, vagabundeando à nossa volta por mais um quarto de hora, em tonalidades que vão do jazz ao rock mais enérgico e catártico, passando obrigatoriamente pela espiral do improviso. A segunda é uma rockalhada poderosíssima à moda germânica, que implora por ser ouvida bem alta. Aliado à voz pejada de efeitos de Mani Neumeier, este tema assemelha-se à deliciosa mas impossível plausabilidade de juntar o Jimi Hendrix de Electric Ladyland aos Hawkwind de In Search of Space.
Um clássico à sua maneira, Känguru é uma hora garantida de música abismal e impressionante. Uma máquina teutónica de fazer sons, tão fria na precisão como destrambelhada no seu caos caleidoscópico. Basta dizer que é mais um lançamento da seminal editora Brain...
3 de julho de 2010
A Marca Amarela III
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Não há nada de Masami Akita que seja fácil de ouvir. Não há nada de bonito nas suas criações. Isto não significa, necessariamente, que não exista nelas nada de belo. O conceito de beleza é elevadamente subjectivo nos discos de Merzbow. Ela pode surgir no silêncio que acalma as suas investidas mais impiedosas. Pode surgir no abandono que o som transmite quando desistimos de tentar interpretá-lo. Pode até ser intrínseca à própria música, cuja abstracção nos deixa à mercê das nossas pulsões mais primárias, agarrando-nos a alma pelas entranhas e confrontando-nos com a vertigem mais profunda do nosso Ser.
1930 é composto por 5 temas de puro ruído branco, cegante e flagelante. A ambiência geral faz-nos sentir como se fôssemos agarrados por uma pinça e colocados na dimensão da estática que se encontra entre duas estações de rádio. Um autêntico trabalho de bondage cerebral que quase faz sangrar os ouvidos de quem não estiver previamente alertado. Extensas e catárticas peças como o tema título ou Degradation of Tapes funcionam como chicotadas de som, uma inundação de ruído primário que repele tanto como compele. Ao cair nestas espirais de som, a música deixa de ser um prazer para se tornar em algo que provoca, que desafia e que catalisa reacções físicas que podem raiar a dor. À chegada do quinto tema, de bom tom intitulado Iron, Glass, Blocks and White Lights, só há duas coisas a discernir: este é o melhor tema do álbum, com as suas injecções de electrónica com odor a éter e ecos de música concreta, ou então o pesadelo ainda não se desvaneceu.
Nos minutos imediatos à audição deste disco, os ouvidos continuarão a pulsar como se a estática libertada ainda circulasse dentro de nós à procura de uma saída. O efeito pode causar inquietação e confusão, mas acabará por se desvanecer em breve. Outro efeito, a longo prazo, pode ser o de nunca mais voltar a este disco, ou o de guardá-lo num sítio recôndito, só nosso conhecido, onde saibamos que ele está, mas não o vejamos. Pode ser necessário para futuras expedições a dimensões sonoras de terrível beleza cujo portal poucos se atrevem a atravessar.
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