Intensamente jazzística e dotada de um imenso poder idiossincrático e de improviso, a banda lança em Känguru a sua cartada mais certeira e, provavelmente, a sua obra melhor conseguida. Espraiado por 4 temas sem medo da expansão temporal, é uma fonte de maravilhas mascarada de guitarras oceânicas e ritmos em total liberdade.
Oxymoron abre o álbum viscosamente, com as seis cordas, o baixo e a bateria a imiscuirem-se pantanosamente e a arrastarem-nos para a sua dimensão pegajosa. Neumeier trata os bombos e os pratos como só ele sabe e entrega-se a uma ladaínha que soa a um blues confusional. Ooga-Booga fecha o disco revisitando os trâmites do rock'n'roll clássico, para depois o virar do avesso e expôr-lhe as entranhas dilaceradas por golpes psicadélicos e mordidelas tribalísticas. Como sempre, o óbvio não mora aqui e o imprevisível espreita a cada nota debitada. Pelo meio, ficam Immer Lustig e Baby Cake Walk. A primeira faz-se anunciar por uma espécie de apresentação de combate de luta livre, ao que se segue uma marcha pesadona em tons de fanfarra. É então que a peça se fractura, vagabundeando à nossa volta por mais um quarto de hora, em tonalidades que vão do jazz ao rock mais enérgico e catártico, passando obrigatoriamente pela espiral do improviso. A segunda é uma rockalhada poderosíssima à moda germânica, que implora por ser ouvida bem alta. Aliado à voz pejada de efeitos de Mani Neumeier, este tema assemelha-se à deliciosa mas impossível plausabilidade de juntar o Jimi Hendrix de Electric Ladyland aos Hawkwind de In Search of Space.
Um clássico à sua maneira, Känguru é uma hora garantida de música abismal e impressionante. Uma máquina teutónica de fazer sons, tão fria na precisão como destrambelhada no seu caos caleidoscópico. Basta dizer que é mais um lançamento da seminal editora Brain...