Per un Amico foi um dos poucos discos que extrapolou além das fronteiras transalpinas, alcançando um considerável frissom na Inglaterra. A sua qualidade é inegável e assenta numa bela e escorreita mescla entre momentos brumosos e etéreos e rasgos viscerais e sanguíneos, muito ao estilo dos Van Der Graaf Generator.
O álbum abre fabulosamente com a leveza do theorbo em Appena un Po', tema que percorre toda a cartilha clássica, injecta-a de fulgor e vibra com um romantismo pulsante. Segue-se o dramático e intenso Generale, que avança desembestado, detém-se numa circular melodia militarizada, e prossegue a cavalgada, sem nunca desbaratar o rigor instrumental. Ventos mais amenos embalam-nos à terceira faixa. Per un Amico é magnífica em todos os sentidos. Das elásticas e imprevisíveis variações melódicas e de tempo à voz afastada mas sentida de Franco Mussida, a entrega é perfeita.
Il Banchetto é a prova que o rock progressivo não tem que ser massudo, carecer de sentido e assentar em faixas de 20 minutos para manifestar as suas intenções artísticas. Este tema, que conjuga mellotron, harpa, flauta e moog é um enorme swell sonoro, oceânico e poderoso, magnificamente executado sem perder o norte. Geranio é o último tema do álbum, que só peca por ser curto. Obviamente, é belíssimo e extremamente bem composto, guardando uma sensibilidade mainstream nos seus interstícios que o faz fluir com facilidade e transcender a rigidez de um estilo. Aliás, todo o disco é uma combinação de melodias geniais e composições inteligentes, o que o torna uma das mais inventivas obras de sempre do rock italiano. A acompanhar com um Chianti, à medida que cresce água na boca (mas um não muito caro, que a vida não está para luxos).