15 de agosto de 2010

Jazzonautas

Se a escrita fosse jazz, a prosa de Jorge Lima Barreto em Jazzarte 2 seria um disco de Cecil Taylor ou Ornette Coleman. Nesta obra, tão original quanto poética, do doutorado em Musicologia que é também 50% dos Telectu, experimentam-se as palavras em tom de improviso. Escreve-se sobre jazz como se ouve jazz, em sucessões de frases belas, complexas, inventivas e inventadas.
Jazzarte 2 conta uma erudita história desta música, que não é para iniciados, mas sim para quem a conhece e a ama. Os neófitos nesta matéria poderão perder-se nos meandros das páginas como numa das obras mais difíceis das parcerias do autor com Vítor Rua. A cronologia é atípica, a terminologia hermética e a escrita flui em mosaicos que se cruzam e desencontram.
Obra obrigatória e indispensável para a afición jazzística mais intelectual e vanguardista, Jazzarte 2 faz a música ressoar nas nossas cabeças. Apetece pegar num disco de Albert Ayler ou Anthony Braxton para apaziguar a fome de sons livres e agitadores. Abraça igualmente a filosofia do jazz, as suas raízes, o seu propósito, a forma como nos alimenta a existência.
Nas palavras de Rui Neves (outro homem do jazz, cujo programa Jazzosfera na extinta XFM deixou-me eternas saudades) no prefácio à primeira edição que seguro agora nas mãos: "Jazzarte 2 é o mais importante livro sobre jazz que se escreveu em língua portuguesa e a sua tradução impõe-se de imediato." Mais não se pode dizer. Para ler avidamente e direccionado a quem gosta de pensar para além do que lhe é exigido. O jazz é uma língua-franca. Jazzarte 2 documenta-a e exalta-a magistralmente.