14 de agosto de 2010

Trovas das Trevas



A implausível (mas possível) recuperação saudosista dos anos 80 tem varrido quase todas as áreas da pop nos últimos anos. Das genuflexões perante os Human League e Soft Cell ditadas pelo electroclash às regressões freudianas (a memória é mesmo o que aconteceu?) dos exercícios de estilo hipnagógicos, o arty e o kitsch, o belo e o lixo foram levantados da tumba. E não se pode misturar tumba e anos 80 no mesmo post sem falar no movimento gótico. Da mesma forma como estas reminiscências têm sido reavivadas via irreconhecimento e manipulação, assim o breu austero do goth foi transladado com nova mortalha a condizer com o século XXI.
Se existe um projecto interessante e credível nesta vertente, ele dá pelo nome de Zola Jesus. A criação da norte-americana Nina Roza Danilova consegue recuperar do esquecimento nomes como Siouxsie & The Banshees (a influência óbvia), X-Mal Deutschland ou os Cocteau Twins enquanto gatinhavam para fora da caverna.
Desavergonhadamente opressiva e ferida de romantismo negro, a música de Zola Jesus parece harmonizar-se com os tempos actuais. Discos como The Spoils ou Stridulum são ausentes de cor e luz. Emocionam e martirizam. Lembram a adolescência a quem gostava de envergar gabardines na Primavera. Evocam rostos alvos de rapariga e paixões taciturnas. Na noite e sempre na noite, da qual não se quer sair. Desde Siouxsie Sioux por volta de 1984 que não brotava uma dama tão fria e, ao mesmo tempo, tão apelativa...