Bem-aventurados os que lá estiveram, pois foram recompensados. A estreia dos Faust em terras lusitanas, mais de 40 anos depois da sua formação, roçou a perfeição. Divergente, bizarro, abrasivo e diferente de tudo, como sempre foi, o conjunto hamburguês presenteou-nos com um espectáculo no limiar da liberdade e do descompromisso artístico. Por lá girou a betoneira costumeira, troaram bidões e uivaram berbequins. Um microfone deu voz a um balde de entulho. James Johnson foi catártico; Geraldine Swayne pintou um quadro; Jean-Hervé Péron regou-o com vinho; "Zappi" Diermaier completou o painel com ritmos do outro mundo. A música, essa, transcendeu limites e convenções. Temas da primeira encarnação dos Faust como Miss Fortune ou Mamie is Blue cruzaram-se com as texturas mais industriais e punitivas das últimas edições. Surrealismo, descontrução, imprevisto e uma enorme comunhão com a audiência culminaram numa interpretação devastadora do clássico Krautrock. Um concerto de sonho? Para mim, um memorável desconcerto! É urgente que voltem depressa, para assombrar e deixar em escombros outra sala lisboeta. Entretanto, nunca é cansativo recordar...