Pouco se sabe dos misteriosos E.M.A.K., sigla que resume Elektronische Musik Aus Köln. Pioneiros na definição da música electrónica moderna, este quarteto de Colónia transpira influências óbvias dos Kraftwerk e dos Cluster mais convencionais, acrescentando-lhes uma cristalina abstracção e um cinzentismo melódico tipicamente pós-punk.
Datado de 1982 e surgindo num período em que os grandes nomes da grande música alemã se desvaneciam ou entravam em lenta retracção, o primeiro álbum dos E.M.A.K. é um excelente e influente tomo da melhor sonoridade electrónica surgida no país da sauerkraut. E não há muito a dizer perante o génio dos dois temas que começam por brotar desta obra. Duas micro-sinfonias electrónicas, frias na estrutura mas contagiantes na forma, a primeira Alhara e a segunda Filmmusik. Se a primeira serpenteia à nossa volta, aprisionando-nos numa espiral de arabescos digitais, a segunda transfigura o clássico ritmo motorik dos Neu! ou Harmonia para encher o espaço circundante e assumir-se, desde logo, como o melhor tema do disco.
Ohne Titel é um belíssimo e visionário tema, um pedaço de electrónica futurista, tão dançável como meditativa, curto na duração, mas persistente na intenção. Reminiscências reformuladas das lendárias gravações de Brian Eno com os Cluster e do mesmo com David Byrne surgem, respectivamente, em Biela e em Was Kann Der Papst Da Sagen. Wenn Mr. Reagan Es Will é o único tema cantado do álbum, uma monolítica e paranóica ode à ameaça nuclear latente na alvorada dos anos 80. Uma certa desolação nocturna e urbana estrangula a maioria dos temas do disco, tornando-o ainda mais sombrio e anónimo. Gewitterluft e Schlammgang são assombrados por espectros industriais e solitária alienação. Tanz In Den Himmel é o protótipo da Neue Deutsche Welle, a nova vaga da música alemã, preenchida por ritmos robóticos e fraseados tão belos como melancolicamente gélidos. Por último, Bote Des Herbst abandona-nos na periferia opressiva e invernosa de uma noite sem destino. Este tema é como apanhar o último metro para casa e assistir, sozinho, à rotação sucessiva de estações desprovidas de vida. Se Ian Curtis fosse vivo, teria aplaudido de pé. Os New Order tê-lo-ão feito, se o escutaram. Sim, porque não há como escapar à imagética muito Factory da capa minimalista e artesanal do álbum.
O primeiro disco dos E.M.A.K. surge numa altura em que influências germânicas e britânicas convergiam, em bandas emblemáticas como os D.A.F., Cabaret Voltaire ou Throbbing Gristle. A partir daqui, começou a ser esculpida a melhor e mais inteligente música embebida em electrónica que se ramificou até à actualidade. E, seguindo a compulsão namedropping das linhas acima, basta citar nomes menos recorrentes mas de inegável qualidade como Schneider TM, Schlammpeitziger ou Kreidler para comprovar o legado dos E.M.A.K. e deste extraordinário disco. Merecedor, indubitável e independentemente da data em que viu a luz, de um lugar no panteão da mais selecta e refinada kosmische musik...