7 de outubro de 2010

Rising Anger

Kenneth Anger, 83 anos, é um dos maiores realizadores de culto da história da sétima arte. Um cineasta vanguardista, experimental e, acima de tudo, anti-establishment. Homossexual assumido desde a época em que esta orientação era ilegal nos E.U.A., Anger sempre maquilhou os seus filmes, como Fireworks ou Scorpio Rising com uma enorme carga homoerótica. Codificada e mascarada, como não podia deixar de ser em tempos obscurantistas. Mas o sentido subversivo e subterrâneo da sua arte não se reteve nesta restrita área. O melhor da sua filmografia, composta exclusivamente por curtas metragens, assenta numa peculiar abordagem de temas ocultistas e esotéricos. Na linha divisória entre o místico e o kitsch, películas como Inauguration of the Pleasure Dome, Invocation of My Demon Brother e Lucifer Rising, são um misto de criatividade cénica e de paganismo moderno. O imaginário de Aleister Crowley e da religião por ele fundada - Thelema - carrega as obras de um flamejar ritualístico e os filmes são autênticos ícones da cultura pop mais transgressiva. Lucifer Rising, por exemplo, imiscui magistralmente rock e cinema e contribui para percebermos o porquê de Kenneth Anger ser próximo de Mick Jagger, Marianne Faithfull ou Jimmy Page. Para além do culto que a envolve, a obra possui uma banda-sonora magnífica da autoria do problemático (e preso há quase 40 anos por assassinato...) Bobby Beausoleil. Aqui ficam Beausoleil in his own words (Fallen Angel Blues – the story of LUCIFER RISING) e a mítica obra.



Personagem algo ascética, apesar da sua vida intensa, Anger esteve retirado do cinema mais de 20 anos. O culto não esmoreceu, fazendo do realizador um dos mais prestigiados outsiders do universo cinéfilo. A sua última criação, um filme promocional para a casa de moda Missoni prova que ainda não perdeu o assombro. Aliás, a obra é tão absorvente que é difícil alguém lembrar-se da Missoni. Still iconic after all these years...