15 de outubro de 2010
Here are The Walkmen
Não é isto que o rótulo indie rock devia proporcionar? Grandes canções para gente que não entra na porta grande da vida? Se é, os norte-americanos The Walkmen fazem-no na perfeição. Encetaram o trajecto com urgência e arrebatamento:
Ao arrebatamento adicionaram um desespero adulto e contido, quase majestoso:
Sim, o som roça o clássico e o vocalista assemelha-se a um Rod Stewart jovem, antes de se dedicar à arte do foleiro e ao estupro de canções alheias. Mas o arrebatamento e a majestade perduram, sendo que o seu álbum mais recente, insondavelmente intitulado Lisbon, é um dos melhores discos do ano. A guitarra de Juveniles é um ferrão agridoce numa trôpega celebração; Angela Surf City é uma vibrante canção que evoca as influências surf-rock da banda e gira até se escapar do eixo que a equilibra; Woe is Me bebe do mesmo cálice, sucessivos shots, para tentar esquecer; Stranded é outro tema divinal, algures entre as alucinoses desérticas dos Triffids e o inescapável dédalo de betão nova-iorquino; Lisbon meneia movimentos de abandono e ostenta um meio sorriso ébrio, dançando tremulamente em direcção à madrugada. Assim se faz um disco soberbo com nome de cidade estrangeira em Nova Iorque. Um disco intemporal como os melhores o são, pleno de momentos que nos transfiguram e arrepiam. Cheio de guitarras ecoantes, penetrantes, vocalizações que irrompem de desditas almas e atmosferas nocturnas, arcaicas na sua angústia. Talvez streetwise seja o termo ideal para as descrever. The Walkmen: Uma das melhores (senão a melhor) bandas norte-americanas da actualidade. Esperemos que se mantenham a cirandar à noite pelas ruas...