É fácil afirmar que os La Düsseldorf são o filho bastardo e comercial dos Neu!. Após a ruptura do seminal colectivo alemão, o mentor Klaus Dinger apontou os mísseis para um projecto assente na mesma base, porém mais acessível às massas e menos vagueante no conteúdo. Em 1976, com o estandarte do krautrock a começar a ser erguido bem alto pela intelligentsia formada por gente como como David Bowie ou Brian Eno, o trio La Düsseldorf edita um dos álbuns mais bem sucedidos e admirados do género. O verdadeiro disco que espraia a sua influência pelas gerações vindouras e que ajuda à arquitectura do sustento musical de muitos bafejados pela sua inspiração.
La Düsseldorf é uma obra tão cativante quanto visionária. Cruza o típico ritmo motorik dos Neu! e dos Harmonia com um imediatismo visceral quase punk e intuições dançantes que o tornam um objecto ainda mais sedutor. Às vagas sonâmbulas e abstractas dos dois projectos supracitados, os La Düsseldorf respondem com música igualmente expansiva, mas encaixada em padrões mais clássicos e massajantes. As guitarras são mais atrevidas e outra novidade é a voz. Está presente em três dos temas e é lida em letras tão minimais como inescrutáveis. São apenas quatro na totalidade, os ditos temas, mas todos eles podem ser entendidos como históricos. O único instrumental, o sumptuoso Silver Cloud, é a conjugação da frieza com a ambiência que embala o corpo e levanta o ânimo. Típicas atmosferas germânicas, rigorosas mas deliciosas de ouvir.O lado A do disco ergue-se na perfeição com Düsseldorf e La Düsseldorf. A fixação pela cidade é inquestionável. A primeira homenagem sabe ao prazer do reencontro. A música é extraordinariamente melodiosa, provoca-nos fisicamente, impele-nos a acompanhar o seu trajecto. E tem a bonita duração de 13 minutos. O equivalente krautrock ao sexo tântrico... A segunda começa com cânticos futebolísticos (provavelmente dedicados ao Fortuna Düsseldorf, que conseguiu alguns brilharetes nos anos 70) e constitui um dos momentos mais assumidamente punk da música alemã da época. Enérgica e espontânea, antecipa muitas coisas já em trabalho de parto na Inglaterra e influenciará outras tantas no futuro. O álbum termina em grande com o épico pulsar de Time. Um início em surdina, que se expande em meditativas mutações, da monotonia ao escapismo, até ao alívio da explosão final - e ao retomar do segundo zero.
Mais que um derivativo dos Neu!, os La Düsseldorf apresentam-se ao mundo em 1976 com uma linguagem renovada. Menos fechada na concha hermética da Arte e na seriedade da experimentação, mais aberta às possibilidades da fusão e da exibição. La Düsseldorf é um dos discos mais influentes e perenes da segunda metade dos anos 70 e é tarefa simples defini-lo numa só palavra: Essencial.