A essência dos Popol Vuh e a existência de Florian Fricke cruzam-se e facilmente se confundem. A relação é simbiótica. O lendário músico alemão, pioneiro da electrónica, raiou muitas vezes a genialidade nas suas criações. Hosianna Mantra foi um desses momentos, uma obra que rompe drasticamente com o transe electrónico e as fortes vibrações étnicas dos dois primeiros álbuns do projecto.
Fricke sempre cultivou uma aura mística. Um véu de eremita, reclusivo, raramente exposto às luzes da ribalta. A sua arte reflectiu-o na perfeição. Constantemente transcendental e convidando incessantemente à meditação e ao misticismo, a música dos Popol Vuh sente-se como uma experiência religiosa. E o que se espera de um homem devoto em simultâneo do cristianismo e do hinduísmo revela-se esplendorosamente nesse disco de 1972. O mesmo divide-se em duas partes distintas: Hosianna Mantra e Das V. Büch Mose. Na primeira, domina o espaço e a música flui e respira. Os sons apontam para Oriente, esparsos e solenemente belos, evocando rituais de paz e contemplação. Na segunda, sobrevém um rigor mais clássico, mas igualmente meditativo e beatífico - música de câmara para a alma. O gigantesco Moog que dominava os dois primeiros álbuns dos Popol Vuh, Affenstünde e In den Gärten Pharaos, dá lugar a instrumentos orgânicos, como o piano, o violino e uma tambura indiana. Trechos de guitarra eléctrica etérea e flutuante adornam a fabulosa Kyrie; um oboé cristalino eleva ainda mais a perfeição de Abschied. A voz celestial da coreana Djong Yun é uma luz dispersa pelo disco, mas particularmente no majestoso tema-título, tira-nos o peso do corpo. É também impossível não mencionar a magnífica Maria (Ave Maria), composição apenas dada a conhecer na reedição do álbum em CD, mas que condensa a intencionalidade do álbum: ser um elo de ligação espiritual e místico entre Ocidente e Oriente, assente na mescla de instrumentos e estilos musicais de ambas as culturas.
Florian Fricke não esgotou a sua prodigiosa criatividade precocemente nesta obra-prima. Continuou a tocar-nos com o misticismo e a estranha beleza da sua música até deixar este mundo em 2001. Hosianna Mantra é apenas o ponto de passagem mais delicado, harmonioso e sublime da giesta dos Popol Vuh. E pode muito bem ser o disco mais belo da música alemã dos anos 70...
Florian Fricke não esgotou a sua prodigiosa criatividade precocemente nesta obra-prima. Continuou a tocar-nos com o misticismo e a estranha beleza da sua música até deixar este mundo em 2001. Hosianna Mantra é apenas o ponto de passagem mais delicado, harmonioso e sublime da giesta dos Popol Vuh. E pode muito bem ser o disco mais belo da música alemã dos anos 70...