8 de fevereiro de 2012

Acid Heirs

Muito pouco se sabe dos Liquid Sound Company. Apenas que são texanos, filhos bastardos de John Perez - guitarrista dos metaleiros Solitude Aeternus - e praticantes de música baptizada com ácido lisérgico. Desde o primeiro álbum que transmitiram a ideia de serem uma aparição fugaz, mas eis que já editaram três. Em 16 anos...
Ainda existem doidos assim. Gente que revisita os labirintos psicadélicos e se perde lá dentro com gozo. Os Liquid Sound Company não fazem a coisa por menos e dedicam-se a dar continuidade ao space rock dos Hawkwind e Pink Floyd e à acidez flower power mais introspectiva. O primeiro disco data de 1996, intitula-se Exploring the Psychedelic e a capa tem-no escrito na testa.
O cenário expande-se em guitarras que oscilam entre tranches planantes e zunidos fuzz, mística oriental e viagens estelares sem partida nem destino. A levitante Let the Incense Drift e a deliciosa Golden Gate '67 são uma boa montra da forma como esta trupe trata as guitarras, a primeira com dolência, a segunda com encanto eléctrico. A Splash of Color e Ride the Coaster Pyramid são os temas mais directos, rock elaborado e melódico, mas envolto em loucura controlada. Loucura que se torna desbragada em Swallow, sucedâneo trippy do stoner rock. Mas as maiores explorações psicadélicas são os fantásticos Mesmerizing the Eye e Sadhana Siddhi. Longos e penetrantes, elementos orientais brotam e florescem, baixando-nos as resistências e obrigando-nos a seguir a sua hipnótica odisseia.
Novo álbum só surgiria em 2002. Se o título e a capa intuem que os Liquid Sound Company não mudaram, o conteúdo chacina qualquer delator. Inside the Acid Temple ataca uma vez mais em todas as frentes, começando em Cubehead (que parece misturar Hawkwind e Queens of the Stone Age), passando por The Art of Ecstasy (mais guitarras tratadas com paixão) e terminando no transe rítmico e minado por efeitos externos do tema-título. Tal como no primeiro registo, a voz assemelha-se estranhamente a um Iggy Pop intoxicadamente introspectivo e o belo desempenho nas seis cordas remete para outro herói do psicadelismo moderno, o brilhante japonês Michio Kurihara.
O resto continua a oscilar entre o físico (The Gospel According to Robert A. Hull) e o espiritual (Unfolding). Basta olhar para títulos hiperbólicos como The League for Spiritual Discovery Lives ou Preparation for the Psychedelic Eucharist para descortinar o que se passa dentro do templo ácido. E o que decorre é uma cerimónia bela, mas que nem todos conseguirão experienciar...
Quando se pensava que o nome Liquid Sound Company tinha desaparecido tão rápida e misteriosamente como tinha surgido, eis que os norte-americanos retornam em 2011 com outro meteorito. Acid Music for Acid People é um nome que lhe cai bem. E é o disco mais pesado até agora, uma catadupa de temas crús mas com todos os nutrientes da sonoridade do grupo intactos. Guitarras que soam a cítaras, bateria que soa a tambura, efeitos do arco da velha e sons que não se sabe bem de onde vêm, mas que parecem ser de uma galáxia distante. Morning Sun é a única composição que não excede os seis minutos de duração. Um interlúdio mínimo e cintilante, que contrasta com as desmedidas carburações ácidas de Liquid Sound Freedom Agitation Free. Um álbum que detém uma música com este nome nunca pode ser mau, mesmo sendo Acid Music for Acid People feito à base de outtakes e temas antigos. Altera a mente, mas sem efeitos danosos. Afinal, as iniciais da banda não são LSD, mas sim LSC...