16 de abril de 2012

Blue Explosion

Os californianos Blue Cheer eram a banda mais pesada do mundo em 1968. Pegando na visceralidade sensual e tecnicamente perfeita de Jimi Hendrix, depenaram-na do virtuosismo e expuseram apenas as ossadas primitivas do rock. Summertime Blues, o seu primeiro (e praticamente único) grande sucesso continua a ser o tema que melhor os retrata. Original rockabilly de Eddie Cochran, transforma-se em artilharia pesada, com riff de guitarra descaradamente roubado a Foxy Lady de Hendrix. É o tema que abre da melhor maneira o álbum de estreia, Vincebus Eruptum, nesse ano de 68.
A estrutura pesada, tosca e crua que sustenta o disco, fez com que muitos o apelidassem de proto-metal. Os Blue Cheer são, inclusive, considerados os inventores da música metaleira. Mas o que se encontra verdadeiramente em Vincebus Eruptum é um concentrado de blues psicadélicos densos e intoxicados, uma guitarra elevada ao extremo e uma secção rítmica esmagadora. Rezam as crónicas que o nome do grupo adveio de uma marca de LSD particularmente poderosa e isso é um dos condimentos que mais enaltece o seu preparado musical. Da meia-dúzia de temas que compõem o álbum, três são versões duras e a pingar testosterona. Além do clássico Summertime Blues, Rock Me Baby (de B.B. King) e Parchment Farm (de Mose Allison) caem igualmente na ceifeira debulhadora dos Blue Cheer. Mais negros e explosivos, dilaceram totalmente as entranhas dos originais.
Os temas restantes saíram todos da pena (ou será melhor dizer do martelo e do escopro?) do baixista e vocalista Dickie Peterson. O registo não varia muito, preocupando-se pouco com trejeitos sentimentais e muito em propagar labaredas sónicas. Merece especial relevo Doctor Please, em que a distorção e o estrépito contínuos evocam a imagem de uma banda fechada numa garagem esconsa e com as mentes em exaltação lisérgica.
Vincebus Eruptum foi reeditado em 2003 com uma faixa extra, All Night Long. Se muitos rotulam o disco como proto-metal, este tema, curto e grosso, puxa a brasa à sardinha do proto-punk. Todavia, por mais tabuletas que se preguem nos Blue Cheer, a mais correcta é seminal. Basta dizer que, sem a influência deste power trio, não existiriam Black Sabbath, MC5 ou Stooges para acabar de vez com a conversa.