Raramente uma banda soou tão fresca como os Sonic Youth. Como se o próprio nome escolhido lhes garantisse perenidade e longevidade. Muito provavelmente o colectivo mais importante e influente do rock alternativo norte-americano dos últimos 30 anos, os diversos flirts com o noise e o experimentalismo, bem como curtas crises de acessibilidade, nunca lhes retiraram a aura punk. No sentido intencional, panfletário, iconoclasta e anti-establishment.
1991: The Year Punk Broke é um documentário de David Markey que retrata a tournée europeia dos Sonic Youth nesse mesmo ano. Em última instância acaba por ser um filme de época, que retrata a invasão europeia pelo rock underground americano e que utiliza factos culturais e históricos desse período para marcar a sua urgência, o seu teor de manifesto. É pelo momentum que o documentário vale e que o mantém apelativo após todos estes anos. Pelo cruzamento do passado com o futuro, em que os lendários Ramones convivem com os sempre intensos Dinosaur Jr.. Pela apresentação ao mundo dos magnânimos Nirvana, ainda diamante em bruto, sem suspeitas que Kurt Kobain se tornaria o Ian Curtis da geração MTV, e em topo de forma humorística (quem não for capaz de sorrir nostalgicamente algures entre os 15 e os 20 minutos do filme já não é corruptível pela punkalhada transgressora, o que é lamentável...).
1991: The Year Punk Broke continua a ser um estandarte da eterna renovação do rock, especialmente do mais descomprometido e centrado na sua energia e poder. Lírico mas real. Fugaz mas marcante. Muitos filmes do género surgiram, antes e depois dele. Este continua a ser o melhor para quem se deixou entranhar por esta música tão hormonal quanto amoral, tão congregante quanto alienante. Peço desculpa pelas legendas em espanhol, mas é o que há. E é suposto isto ser punk...