11 de dezembro de 2013

Grande Lata



A principal característica dos Can sempre foi a espontaneidade. O próprio Holger Czukay, baixista e mentor da banda, chegou a afirmar que as composições e as actuações ao vivo do seu colectivo derivavam de criações instantâneas. E foi o improviso e o constante experimentalismo que fizeram do grupo germânico, mais que um dos porta-estandartes do krautrock, um dos projectos mais vanguardistas, subversivos e influentes do rock inteligente. Serão, juntamente com os Velvet Underground, a maior banda de culto de sempre. Mas enquanto os nova-iorquinos viram a sua projecção aumentar ao longo do tempo, a banda de Colónia sempre se moveu nas sombras, a sua música mais fácil de mencionar para impressionar que de ouvir para apreciar.
A formação clássica dos Can que, para além de Czukay, incluía Damo Suzuki, Michael Karoli, Irmin Schmidt e Jaki Liebezeit editou alguns dos discos mais futuristas e estratosféricos da década de 70. A música de Tago Mago, Ege Bamyasi ou Future Days é estranha, cerebral, hipnótica, tão imediata como depurada na sua estrutura, tão variada como repetitiva em termos rítmicos. É a mais imperativa de ouvir, ter e venerar, se bem que os Can nunca foram desinteressantes ou vulgares. A odisseia iniciada com o imenso e intenso Monster Movie e terminada com Rite Time está repleta de passos em frente e estratégias progressistas.
Can - The Documentary propõe uma história visual da banda. Parte integrante da exaustiva Can Deluxe Box DVD editada em 2005, é o filme ideal e definitivo para conhecer os Can para além da música. Filmagens raras e históricas, excertos de antológicas actuações ao vivo e muitas entrevistas preenchem a hora e meia de imagens, que passa demasiado depressa. Apesar de tudo, o documentário condensa o essencial da singular carreira de um dos colectivos mais geniais de sempre, que não só colocou a Alemanha no mapa da música influente como revolucionou para sempre os preceitos do rock como forma de arte.