28 de dezembro de 2014

Big Ben


O colectivo Ben foi mais uma das curiosidades jazz rock inglesas a despontar no início dos anos 70. Nitidamente influenciado pelos nomes de topo da época neste género, nomeadamente os Soft Machine e os Nucleus, o quinteto liderado pelo mestre dos sopros Peter Davey acaba por vincar a sua personalidade graças a uma abordagem mais solta, quente e, em última instância, americana que a chama controlada e fleumática característica dos seus pares.
Ben, o único registo conhecido da banda, data de 1971. Ainda hoje sabe a raridade. É um disco algo directo e pouco maquinal, tendo em conta as ambições por vezes hiperbólicas da música da época. Pelas rachas das suas paredes parece entrar a luz dos Return to Forever ou do Miles Davis em plena fase de promiscuidade com a electricidade.
A temática central das quatro peças que compõem o álbum remete-nos para o crescimento espiritual, da infância até à morte. Matéria mística, à qual os Ben dão um tratamento terreno logo a partir do primeiro tema, The Influence. Dividido em sete partes, dá saltos e piruetas, engalfinha flauta com piano eléctrico e desbobina saxofone enérgico, sem perder o fio à meada. Segue-se Gibbon, sem dúvida o ponto alto do disco. Sobre cama de valsa são servidas doses generosas de piano eléctrico entremeado com saxofone fumegante, sendo o ritmo entrecortado por cascatas quebradiças de energia.
Christmas Execution é uma peça de rico rigor formal, tão fora de tudo como tudo o que está dentro deste disco. Valha-nos sempre a execução irrepreensível, mesmo não sabendo para onde ela vai. Gismo prossegue a senda errática e encerra o registo por entre as abstracções vocais derivadas de Robert Wyatt nos Soft Machine e os devaneios desagregados dos solistas em acção.
Em última instância, a única obra dos Ben é um objecto inacabado, impulsivo. Não obstante, acaba por ser incomparável, dado o estatuto de filho único. À falta de herdeiros, celebremo-lo como pequena bizarria, esquiva mas sedutora.