Laurence Vanay é um nome desenhado. Um pseudónimo, criado por Jacqueline Thibault, para definir-se como artista a solo após uma fugaz passagem pelo obscuro grupo Vogue. Este nome artístico não escapa à influência do seu esposo, Laurent Thibault, uma das figuras de proa dos Magma - o visionário colectivo francês que criou uma linguagem própria e embebida em jazz, space rock e apocalipse.
Nos antípodas do negrume magmático, o primeiro trabalho a solo de Laurence Vanay é uma jóia de rara beleza e expressividade. Intitula-se Galaxies, data de 1974 e roça o génio com a ponta dos dedos.
Disco irrotulável, espraia-se por vários estilos sem nunca amigar-se com nenhum. Apesar de hospitaleiro e das ondulantes melodias que o envolvem, revela-se desafiante e impregnado de improvisos calorosos, onde razão e emoção ecoam em uníssono. Os temas são curtos mas nunca vagos, apenas soam a sonhos diurnos ou meditações fugazes cortadas pela realidade.
Irrompe suavemente a chanson française decorada com motivos hippie de Demain, Deux Phares e La Grand Voile. Escorrem belíssimos devaneios instrumentais, como o bucolismo de Le Loup Qui Pleure e a melancolia cadente e flutuante de Le Bateau. Encanta e envolve a doce solenidade cósmica do tema-titulo.
Somente em Le Soleil Rouge e no efervescente Catalepsie se nota uma ténue sombra da intensidade escura dos Magma, mas em que Laurence Vanay surge como o gineceu musical dessas sombras sisudas.
Obra vincadamente feminina e independente numa época em que as mulheres pouco ou nada vingavam em termos composicionais, Galaxies tem vindo a ser redescoberto com a atenção que merece. Foi alvo de reedição no ano transacto com inéditos apetecíveis e o seu discreto charme e simplicidade enganadora continuam a conquistar mentes abertas a emoções inteligentes.