Pouco se sabe acerca de Valerian Stöecklein. Antes da edição do seu primeiro - e único - álbum a solo, Grey Life, foi o vocalista de uma banda de folk rock que causou algum furor no advento da era psicadélica: os Blue Things. A banda terá prosseguido sem ele, desaparecendo progressivamente para se tornar objecto de culto.
Menor culto não deve ser votado a Grey Life. O único legado gravado de Val Stöecklein data de 1968 e merece entrada imediata para o panteão dos clássicos obscuros.
Se existem discos que dizem quase tudo na capa que ostentam, Grey Life é um deles. Apesar da profusão de orquestrações e do teor açucarado de algumas, os esqueletos das canções da obra são feitos de ossos partidos e estilhaços de desencanto.
Val Stöecklein combateu problemas mentais até à sua morte em 1993, alegadamente por suicídio. Não é de estranhar que a bipolaridade da qual padecia tenha transparecido na sua música. O que não a torna deprimente e impenetrável, mas apenas triste. Por vezes aproxima-se de um Gene Clark mais urbano; outras vezes de um Tim Buckley mais directo e menos onírico.
A melancolia transversal mas nunca monolítica inicia-se com o excelente Say It's Not Over, canção que merecia um papel bem mais destacado que apenas o de balada poeirenta. Tal como a delicadeza intrincada da belíssima French Girl Affair. Temas carpidores não faltam em Grey Life, do grito desesperado de I Can't Have Yesterday à saudade de Sounds of Yesterday, passando pelo vazio de I Wonder Who I'll Be Tomorrow.
Das parcas vezes que a luz penetra, é ténue e fria, como em Morning Child ou Now's the Time. Canções que procuram a esperança, mas parecem ao mesmo tempo temê-la. As orquestrações envernizam-nas mas nunca lhes tiram a subterrânea emotividade nem a solidão do quarto escuro. Segundo rezam as crónicas, Val Stöecklein não gostou do resultado final do álbum e da orientação, a seu ver, demasiado comercial da produção. Em consequência, ter-se-à retirado em definitivo da música, não voltando a gravar. Não sabemos se existem mais composições suas, perdidas algures ou relegadas para os confins de qualquer estúdio. Pouco ficámos a saber também de Valerian Stöecklein, mas este disco não permitirá nunca a morte do artista.