O berlinense Zodiak Free Arts Lab foi um dos míticos locais em que a música alemã inflectiu para a pós-modernidade. A atmosfera de psicadelismo underground impregnava as paredes e o espaço encontrava-se pejado de instrumentos para livre utilização dos frequentadores. O experimentalismo e o improviso eram fomentados e a casa serviu de rampa de lançamento para muitos nomes incontornáveis do krautrock, tais como Ash Ra Tempel, Agitation Free e, acima de tudo, Tangerine Dream.
Para além do futuro Cluster Hans-Joachim Roedelius, o recentemente malogrado Conrad Schnitzler foi um dos fundadores do Zodiak. Juntamente com Wolfgang Seidel e o engenheiro de som Klaus Freudigmann, Schnitzler formou os embrionários Eruption, plantando, em 1970, uma das sementes mais obscuras e radicais da kosmische musik e que veria a luz do dia somente em 2006.
Eruption é construído nas ruínas de uma Alemanha devastada pela guerra e dominado por ambiências industriais e pós-apocalípticas. A expansividade cósmica que Schnitzler conseguiu pela mesma altura em Electronic Meditation, o primeiro álbum dos Tangerine Dream, é aqui substituída pelo caos controlado do experimentalismo licencioso. O som é inóspito e agressivo, investindo como uma nuvem negra carregada de ecos e distorções, ritmos despedaçados, borrascas de guitarra, violino espectral e vozes inumanas.
Os sete temas que compõem o disco não possuem nome próprio e são indivisíveis do todo desta equação sonora. Um longo e frio manto cinzento cobre o ouvinte, como uma viagem em primeira classe pela desolação. Ao invés das flutuantes e hipnóticas sagas cósmicas do futuro, foram a electrónica punk e arquitectura industrial que começaram a ser desenhadas aqui. Lambidas as feridas, o espaço seria a fronteira final para a sublimação...