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Da vastíssima paleta do compositor alemão, retiro hoje uma das peças mais esparsas e frugais. Stimmung, de 1968, é uma obra feita para seis vocalistas e seis microfones. Encontra-se dividida em 51 pequenas secções, que raramente excedem os dois minutos de duração. Em cada uma delas, um solista incia um fragmento de melodia a que os outros se procuram juntar. Logo que a consonância seja alcançada, é a vez de outra voz iniciar o mesmo processo. Na linguagem de Stockhausen, muito simples. Deuses astecas, aborígenes e gregos são nomeados ao longo dos excertos, entremeados com poemas de amor do próprio compositor. A história de Stimmung começa numa viagem ao México, onde Stockhausen vagueou pelas ruínas das civilizações pré-colombianas, inspirando-se e tornando-se um dos seus. De volta a uma pequena casa de praia nos Estados Unidos, as memórias da experiência transformaram-se em música. O Inverno era rigoroso e o trabalho de composição guardado para a noite. Com a mulher e os dois filhos pequenos perto, Stockhausen laborava em surdina, o que resultou no registo baixo e nocturno de Stimmung. Nas palavras do autor: Nothing oriental, nothing philosophical: just the two babies, a small house, silence, loneliness, night, snow, ice (also nature was asleep): pure miracle! Felizmente há Inverno...