2 de janeiro de 2012

O Renegado


Se o rock'n'roll encarnasse num corpo, esse corpo seria o de Ian Fraser Kilmister. Conhecido pelas massas como Lemmy, o inglês é uma das maiores lendas vivas da música, parecendo ser sempiterno e imutável. Iniciou-se nas lides nos anos 60, década que assistiu à sua passagem por várias bandas, dos quase desconhecidos The Rockin' Vickers aos psicadélicos Sam Gopal, cujo único álbum editado - Escalator, de 1968 - ainda hoje merece umas boas audições. Pelo meio, foi ainda roadie de Jimi Hendrix e seus Experience.
O primeiro momento de projecção surge com o ingresso nos Hawkwind, os space rockers alucinados aos quais emprestou a voz e o seu peculiar estilo de tocar baixo. Despedido em 1975 após prisão por posse de drogas, Lemmy concebe o projecto que ainda hoje possui o dom de pôr várias gerações a fazer headbanging: os poderosos e inimitáveis Motörhead. Grupo normalmente associado ao heavy metal, não se esgota absolutamente neste rótulo. Os Motörhead são muito mais que isso e tocam uma franja muito mais abrangente: foram dos poucos colectivos que passaram intactos pela explosão do punk em Inglaterra, sendo mesmo idolatrados e emprestando elementos da sua imagem e estilo ao movimento. Os rockabillies adoram-nos. E qualquer melómano que se preze não pode deixar de admirar a sua garra, longevidade e influência. Lemmy tem 66 anos, mas não tem vontade de abrandar. Tem a raça, a mística e o eterno humor de alguém que nunca fez nada que o deixasse desconfortável ou infringisse a sua natureza. Há uns tempos foi o actor principal do seu próprio filme. Mr. Rock'n'Roll já o merecia e nós já o merecíamos.