First they came with bombs, now they come with synthesisers. Esta foi uma das expressões que os britânicos soltaram aquando do concerto dos Tangerine Dream na Catedral de Coventry. Em 1940, o sumptuoso monumento e grande parte da cidade foram destruídas pela aviação alemã. Agora, em 1975, os germânicos voltavam sob a forma de três misteriosos músicos que invadiam o local sagrado com o seu psicadelismo cósmico.
A filmagem do evento que ficou para a posteridade não mimetiza o concerto em si. Realizada magistralmente por Tony Palmer, consiste numa montagem de som e imagem, em que a música transcende o espectáculo e se torna uma cinestesia do espaço onde é tocada. O lendário concerto dos Tangerine Dream na Catedral de Coventry consegue ser visualmente esmagador, com as pedras, vitrais e tapeçarias a reflectirem a flutuante e espacial atmosfera do trio. Musicalmente, esta é também uma excelente oportunidade para apreciar os Tangerine Dream numa das suas melhores encarnações (Edgar Froese, Peter Baumann e Chris Franke) e num período fértil de criatividade (rodava por estes dias o belíssimo Ricochet). Documento histórico e irrepetível nestes moldes, permite um olhar abrangente aos primórdios da música electrónica e à forma arcaica mas romântica como era posta em prática. Permite igualmente a veneração dos mestres, conservados para sempre entre as quatro paredes do templo. O culto tornou-se infinito.