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As belíssimas e emotivas canções raramente transcendem a fronteira acústica. Arranjos de sopro e brisas de piano agitam My Friend e uma cascata orquestral tomba sobre a sublime Tomorrow. Uma bateria esparsa e gotas de cravo preenchem o não menos soberbo Time. De resto, erguem-se maioritariamente o trovador Dino e a sua guitarra, completando-se um ao outro, aconchegando-se mutuamente. E mais não é preciso, quando ruminações românticas e dolentes como Something New, Listen To Me ou New Wind Blowing param o tempo e salvam-nos, por momentos, do mundo real. À história de Me and My Uncle poderíamos chamar algo como outlaw folk. Children of the Sun guarda algum bucolismo psicadélico e Test vem terminar a edição original do álbum em expedição psicadélica explícita, mostrando que o baladeiro nunca deixou de ser um dos pais desta corrente.
Dino Valente é um disco com uma exposição bem mais reduzida que aquela que merece. É um exemplo perfeito do som de San Francisco nos finais dos anos 60, esse som pacífico e solarengo, em que uma acalmia algo triste se projecta no azul do céu. Reeditado em 2004, acrescentou Shame On You Babe e Now and Now Only aos dez temas originais e enfatizou uma vez mais o excelente escritor de canções que Chet Powers (o homem) foi. Justiça fosse feita (e um pouco menos de dedicação à marijuana...) e a sua obra-prima a solo seria falada na mesma dimensão que alguns discos de Tim Buckley, o seu génio composicional no mesmo patamar de Arthur Lee. Este é o único sítio na Internet onde existe um tributo ao músico. É rudimentar, mas funciona como local de culto a um artista que nunca passará disso.