Chet Powers escolheu o nome artístico Dino Valenti no princípio da sua carreira. Posteriormente, na banda que ajudou a fundar - os Quicksilver Messenger Service - passou a chamar-se Jesse Oris Farrow. Este estranho desdobramento de pseudónimos parece dever-se à divisão do músico entre vários projectos, à procura de uma identidade diferente em cada criação.
O único registo a solo deixado pelo californiano veio complicar um pouco mais a sua identificação. Um erro da editora fez com que o seu nome aprecesse como Dino Valente. 1968 foi o seu ano. Se o nome artístico parece remeter superficialmente para algo entre o mafioso e o intérprete de canções napolitanas numa trattoria de Little Italy, o conteúdo engana redondamente. Este é um disco de excepção, um tesouro perdido que poucos contemplaram e menos resgataram para o presente. Longe do rock psicadélico dos Quicksilver Messenger Service, Dino Valente é um disco orgulhosamente folk. Do mar e não da terra. A obra de um baladeiro com os poros entupidos de sol e sal, com a alma assombrada pela doce melancolia de um Verão que nunca dura. De um homem que viveu atrás das grades e de um pioneiro a quem chamaram the underground Bob Dylan...As belíssimas e emotivas canções raramente transcendem a fronteira acústica. Arranjos de sopro e brisas de piano agitam My Friend e uma cascata orquestral tomba sobre a sublime Tomorrow. Uma bateria esparsa e gotas de cravo preenchem o não menos soberbo Time. De resto, erguem-se maioritariamente o trovador Dino e a sua guitarra, completando-se um ao outro, aconchegando-se mutuamente. E mais não é preciso, quando ruminações românticas e dolentes como Something New, Listen To Me ou New Wind Blowing param o tempo e salvam-nos, por momentos, do mundo real. À história de Me and My Uncle poderíamos chamar algo como outlaw folk. Children of the Sun guarda algum bucolismo psicadélico e Test vem terminar a edição original do álbum em expedição psicadélica explícita, mostrando que o baladeiro nunca deixou de ser um dos pais desta corrente.
Dino Valente é um disco com uma exposição bem mais reduzida que aquela que merece. É um exemplo perfeito do som de San Francisco nos finais dos anos 60, esse som pacífico e solarengo, em que uma acalmia algo triste se projecta no azul do céu. Reeditado em 2004, acrescentou Shame On You Babe e Now and Now Only aos dez temas originais e enfatizou uma vez mais o excelente escritor de canções que Chet Powers (o homem) foi. Justiça fosse feita (e um pouco menos de dedicação à marijuana...) e a sua obra-prima a solo seria falada na mesma dimensão que alguns discos de Tim Buckley, o seu génio composicional no mesmo patamar de Arthur Lee. Este é o único sítio na Internet onde existe um tributo ao músico. É rudimentar, mas funciona como local de culto a um artista que nunca passará disso.