Defraude-se quem vem aqui à procura dos góticos de Northampton. Cinco anos antes deles voltarem do mundo dos mortos, alguém se apropriou musicalmente do nome da escola de Gropius. Eram italianos, surgiram de rompante e assim se sumiram. A única prova da sua existência é Stairway to Escher, álbum gravado de uma assentada, ao vivo em estúdio, coisa inebriante e intensa. A arquitectura do jazz rock impregna o disco, uma música quente e suada, comunicativa e contagiante. Muito na senda dos Return to Forever ou dos Weather Report.
Stairway to Escher apresenta-se mais como uma raridade que como uma referência musical. Mas, como troféu de caça que é, a qualidade dos seus elementos, quer humanos quer artísticos, nao pode ser olvidada. Formado por alguns elementos dissidentes dos Buon Vecchio Charlie (já falados aqui), os Bauhaus distanciam-se do centro de gravidade do rock progressivo e passam à translacção em volta do jazz. As guitarras eléctricas ainda subsistem e a energia pulsa insistentemente. Mas o ouvido expande-se perante os empurrões do improviso, que fazem do disco uma espécie de saudável anarquia e uma espontânea demonstração de exuberância musical.
Tudo flui com método e improviso em Stairway to Escher. Não existem pontos fortes ou fracos. É um disco que abre buracos que ao mesmo tempo vão sendo tapados. The Lonious Gropious e Modulor são essencialmente geniais, jazz rock com botox a realçar as suas partes mais carnudas. Ri-Fusion e Tipi di Topi saltam fora do seu eixo e só são apanhados a tempo de evitar a projecção definitiva fora de órbita. O tema-título é escolástico na forma como aborda a fusão entre jazz e rock.
Belíssima fornalha musical, o único legado dos Bauhaus italianos é obrigatório para viciados em experiências híbridas dos anos 70 e para amantes da música em desalinho.