Virtuosidade e paixão, eis a melhor forma de definir os Arti e Mestieri. Esta lendária banda italiana, cambaleante entre o jazz de fusão e o rock progressivo, ainda está no activo, produzindo música com algum interesse. No entanto, é no seu despontar e consolidação que reside o génio. Após a agradável e influente surpresa que foi Tilt - Immagini per un Orecchio, primeiro álbum que vale o seu peso em ouro, Giro di Valzer per Domani depura definitivamente os Arti e Mestieri como mestres europeus da fusão nos anos 70.
Enquanto Tilt... assentava em temas longos de estrutura complexa que se desenrolavam em regime de improviso, o segundo registo do grupo oferece composições mais curtas e directas, se bem que igualmente vertiginosas na entrega e no entrechoque de instrumentos. Apesar da complexidade inerente, Giro di Valzer per Domani é um disco extremamente audível e sedutor. Adiciona aos elementos jazzísticos e à precisão cerebral um irresistível perfume latino. Melodicamente imaculada, a música é luminosa e viva. Bebe tanto nas águas límpidas de Canterbury como no misticismo caloroso da Mahavishnu Orchestra. Poderia bem ser uma conversa musical entre Miles Davis e Herbie Hancock em Sirmione, circa 1975...
Alguns temas são vocalizados, o que aproxima os Arti e Mestieri de muita da produção prog italiana da altura (caso típico é o excelente Saper Sentire). Mas são as peças instrumentais, no seu dócil frenesim, que mais se agarram à pele e aí se incrustam, resistindo ao tempo. Valzer per Domani, Mirafiori ou Dimensione Terra são alguns dos melhores exemplos a dar. Energia contagiante, melodias soberbas e instrumentação irrepreensível (especialmente o violino em estado de graça). Em suma, uma obra-prima de fusão progressiva. Merece uma palavra especial de apreço Furio Chirico, um dos melhores bateristas de sempre, a catapulta do disco, que trata as peles com desvairada galhardia. A prova dos nove está em Sagra, Mescal, Da Nord a Sud...
Giro di Valzer per Domani é mais uma referência da Itália musical dos anos 70. A representação ideal do tratamento transalpino dado à música fusional. A arte está na sedução, o mistério no imprevisível.