7 de junho de 2011

Fina Flor


O aspecto mais interessante da seminal revista Wire é a sua incompletude. Esta publicação britânica, a mais importante fonte de divulgação da música realmente nova, nunca se instalou no trono das verdades absolutas. A operar desde 1982, a Wire mantém-se eternamente jovem, constantemente deslumbrada com a originalidade e inovação das novas gerações de artistas que tem visto despontar.
The Wire Primers é um excelente livro editado sob a chancela da revista (e de selecções do seu regular colaborador Rob Young) e baseado numa rubrica inconstante da mesma. A temática destes Primers assenta na selecção e discussão de determinados estilos musicais, das suas obras e personagens de referência. É um óptimo guia na imensa espeleologia das cavernas musicais, principalmente as mais profundas. O livro propriamente dito faz um resumo do melhor e do mais importante editado nesta secção, subdividindo-se em quatro partes distintas: Avant Rock, Funk, Hiphop & Beyond, Jazz & Improvisation e Modern Composition. Cada um destes assuntos delicados é entregue à pena de variados escribas, mas o estilo mantém-se sempre uniforme e, especialmente, apelativo. Pela importância e pela capacidade de injectar vitalidade em áreas tradicionalmente rebuscadas, merecem destaque os capítulos sobre Captain Beefheart, Frank Zappa e Sonic Youth. Outros, como os dedicados a John Cage ou à cena Noise, são mais académicos e menos apaixonados, mas mesmo assim dão vontade de investigar.
Escusado será dizer que este livro é feito à medida dos seguidores da Wire, acarinhando com especial ternura os estilos e artistas que mais tem ajudado a divulgar ao longo dos últimos 30 anos. Foi publicitado como um complemento ao monumental The Rest is Noise de Alex Ross, mas não alcança o estatuto de clássico dessa importantíssima obra. The Wire Primers é, em suma, uma referência incompleta. Um estudo que indica caminhos, irradia influências e impele ele próprio a estudar. Filho de peixe sabe nadar.