Voltaram os Battles. Desta feita reduzidos a trio, após a saída do líder Tyondai Braxton. Com uma perda desta envergadura, os cépticos começaram a temer pela consistência criativa da banda nova-iorquina. Braxton é a prova que quem sai aos seus não degenera. Filho de um dos mais inovadores e vanguardistas músicos de jazz de sempre (o saxofonista Anthony Braxton), o júnior foi o grande motor dos primeiros passos dos Battles e da cerebral mas estranhamente contagiante música exibida em Mirrored, o álbum de estreia. A crítica coçou a cabeça e chamou-lhe muita coisa, como por exemplo Math Rock. Estilo oblíquo e assente em estruturas angulares e complexas mudanças de ritmo, este Math Rock não foi inventado pelos Battles. As suas origens perdem-se na noite dos tempos, sendo que equações musicais foram anteriormente formuladas por várias bandas, dos Henry Cow aos Cardiacs, passando - fatidicamente - por Frank Zappa e Captain Beefheart.
Quem teve o privilégio de ouvir Mirrored em toda a sua frescura, guardou certamente na memória a forma como o disco cruzava o experimentalismo laboratorial aos grooves mais abrasivos e apelativos. Ritmos e melodias vindos directamente do futuro baralhavam as regras do presente. Provas óbvias, auditivas mas também visuais, foram imortalizadas assim:
Os Battles de 2011 renunciaram parcialmente a esta herança. Reinventaram-se, não querendo ser ruínas de uma outrora torre altaneira. Como um cão com três patas, equilibram-se e andam, sabendo que a pata que falta será sempre notória. Tyondai Braxton complicou, os Battles simplificaram. O ex-líder manteve-se fiel aos seus ideais e lançou-se numa experimental e exploratória carreira a solo. O seu único álbum até à data, Central Market, de 2009, mantém os grooves potentes e as estruturas imaginativas, condensando-os a elementos de música clássica contemporânea. O resultado é tão curioso como interessante.
O agora trio suavizou ligeiramente a sua sonoridade. O novo disco, Gloss Drop, não é uma cedência ao facilitismo, mas acaba por ser uma obra mais luminosa e menos matemática. A complexidade técnica ainda ferra o dente no ouvinte e pressentem-se extravagâncias prog, mas a abordagem é mais branda e até - pasme-se! - dançável. Africastle, My Machines (parceria improvável com Gary Numan) e o esplendidamente excêntrico Ice Cream (em conluio com o ás chileno da electrónica Matias Aguayo) são passos em frio decididos e desempoeirados. São os Battles a deixar entrar o verão na equação.
Os Battles de hoje provam que souberam resistir à perda de um líder carismático sem perder identidade, criatividade e a capacidade de nos presentar com sons nunca antes debitados. Gloss Drop deixa água na boca para as possibilidades que se seguirão. Resta saber se ao vivo conseguirão acender o pavio que Braxton deixou apagado e que chegava a fazer arder cérebros em proporções devastadoras...